domingo, 15 de agosto de 2010

Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)


08/08/2010


Questionário de diagnóstico é criticado

Imprecisão e abrangência são algumas das restrições apontados na utilização do quadro de perguntas denominado SANP-4

Luciana La Fortezza

Denominado como SNAP-4 e utilizado para balizar o diagnóstico de possíveis casos, o questionário disponibilizado em alguns sites que discutem Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é alvo de críticas por conta da imprecisão e abrangência. Quem trabalha com ele, no entanto, informa que as questões foram construídas a partir dos sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística – 4, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria.

‘Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele’. Esta é uma das perguntas a ser assinalada pelo interessado em levantar o problema. Entre os que não aprovam a criação da sequência de perguntas, tem quem aproveite a oportunidade para solicitar à mãe que verifique se a criança não a ouve quando ela diz sobre o passeio para tomar sorvete ou se está surda apenas para a determinação de arrumar o quarto.

É o caso da professora Cecília Azevedo Lima Collares, que trabalhou por 28 anos na faculdade de educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Esse é o questionário que a professora recebe (do médico) para responder. Na maior parte das vezes, ela não sabe que o diagnóstico está sendo feito”, comenta.

Até mesmo para o vice-presidente da Associação Brasileira de Dislexia, o neurologista Abram Topczweski, as perguntas são genéricas. “Mas o que eu valorizo mais do que qualquer coisa é o tamanho das dificuldades que o indivíduo enfrenta. Se tem prejuízo social, escolar, familiar, o questionário vai dar positivo. Os prejuízos são mais importantes do que qualquer questionário”, garante ele, que trabalha há 30 anos com casos de TDAH e dislexia e tem publicações sobre o assunto.

Incorreções

Com 40 anos de experiência, a neuropediatra de Bauru Lucin Yacubian adverte para a possibilidade de diagnósticos incorretos sobre quadros de TDAH. “Hoje, o grande problema da medicação é que tem quem medique sem ter certeza. São feitos maus diagnósticos. As escolas mandam indiscriminadamente para os consultórios já pedindo o metilfenidato”, comenta.

No entanto, na opinião dela, em vários casos o medicamento é recomendado e funciona muito bem. Ela o utiliza há 40 anos. “Se puder fazer sem a medicação, muito melhor. Só que hoje em dia é muito caro. Nenhum convênio paga, por exemplo, psicopedagogas. E as crianças não melhoraram só com dez consultas. Sempre tive equipe com psicóloga, pedagoga, fonoaudióloga. O médico sozinho não faz nada. Nunca tive problema porque trabalho em conjunto”, explica.

Yacubian adverte, ainda, para um outro problema: a educação dada em casa. Muitas crianças desde pequenas não têm limite para nada e, consequentemente, têm baixa tolerância à frustração, o que não necessariamente é TDAH. “Claro que a educação influencia, mas o TDAH não é somente fruto do meio”, afirma. Quem sofre com o problema, de acordo com ela, apresenta alguns sinais desde o berço.

A questão que prejudica ainda mais o quadro, na visão da médica, é que as escolas estão cada vez mais desinteressantes para os alunos. E é justamente na alfabetização que os sintomas aparecem de forma mais exuberante.

“As crianças começam a participar de atividades que exigem atenção por um período maior e surgem novas exigências quanto ao comportamento. Com o tempo podem aparecer outros sintomas, como baixa autoestima, sonolência diurna, “pavio curto” (por causa da impulsividade e irritabilidade), necessidade de ler mais de uma vez para “fixar” o que leu, mudança de interesses o tempo todo, entre outros”, acrescenta Yacubian.
Média de criança aumenta após remédio

Após ser diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e medicado, um aluno da 1ª série do ensino fundamental da professora de Bauru Renata Alessandra Martiano Roda melhorou suas médias, além de mudar completamente o comportamento em sala de aula. Diferentemente de outras crianças com o mesmo problema, ele não ficou sonado ou com comportamento de zumbi, por exemplo.

“Já tive alguns alunos que pareciam dopados. Esse não. Neste caso, o resultado foi surpreendente, é outra criança. A concentração e o rendimento em sala de aula melhoraram, assim como o relacionamento com o grupo. Por conta da agitação, ele tinha até dificuldade em fazer amizades. Os colegas não ficavam muito à vontade, ele não dava chance”, explica.

Inquieto e estabanado, sem qualquer intenção, o garoto de 6 anos chegava a machucar outros alunos. Também por conta da desatenção, a mãe foi chamada à escola e confidenciou que vivia a mesma realidade em casa.

“Quando o responsável chega, ele geralmente já sabe do que se trata. O comportamento não muda fora da escola. Ele tinha conflitos até com a vizinhança. Esse meu aluno, sem medicação, enfrenta muita dificuldade para dormir. Alguns dias dorme apenas três horas por noite”, comenta.

Além do acompanhamento com o neurologista, o estudante recebe orientação psicológica particular, pois a mãe não conseguiu tratamento gratuito nessa área – apesar da dificuldade financeira. Com 22 anos, a moça e o filho moram com a mãe dela. Para evitar constrangimentos ao menino e à família e em respeito ao Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), os nomes foram preservados.

FONTE DE PESQUISA: http://www.jcnet.com.br/detalhe_geral.php?codigo=189021

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