quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O jeito como você trata a criança gaga é decisivo para que ela fale com mais fluência.


O jeito como você trata a criança gaga é decisivo para que ela fale com mais fluência, se relacione com os colegas e se sinta bem em classe. A primeira coisa a fazer é deixar a ansiedade de lado
A pergunta é simples: onde você guardou o seu caderno? O aluno começa, então, a bater o pé no chão, a mexer nos cabelos e a repetir uma mesma sílaba. Ele vai ficando cada vez mais nervoso ao tentar, sem sucesso, responder à sua questão. Você percebe o mal-estar e fica na dúvida: espero ou ajudo o menino a completar as palavras? Lidar com um estudante gago traz insegurança mesmo. Não é para menos. Algumas atitudes até agravam o problema — que se não for tratado afeta também a auto-estima, a socialização e a aprendizagem. Por isso, sua atuação positiva em sala pode contribuir para a melhora ou a cura no futuro.
As causas da gagueira, chamada por especialistas de disfluência da fala, são um verdadeiro mistério. Várias pesquisas sugerem que ela pode ser genética, decorrente de disfunções fisiológicas ou de origem psicológica. Mas nenhuma é conclusiva. "Não há provas de que uma emoção forte desencadeie a gagueira. Mas emoções provocadas por críticas ou humilhações pioram o quadro", diz a fonoaudióloga Leila Nagib, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A falta de fluência é muito comum na pré-escola. Nessa fase, os pequenos estão aprendendo a falar e é natural que cometam alguns errinhos ao pronunciar palavras e frases — o que não é considerado gagueira. "O ato de falar exige precisão, e a criança nessa idade está adquirindo a linguagem e conhecendo seus movimentos e o próprio corpo", afirma Leila. É normal que ela hesite, faça pausas longas e repita palavras, pois é o ensaio da fala. "Em crianças na pré-escola, é aceitável no máximo 10% da fala disfluente. A partir dos 8 anos, isso deve diminuir progressivamente", explica a especialista em gagueira Claudia Regina Furquim Andrade, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O problema só é preocupante quando o aluno repete sons e sílabas, demonstra esforço para falar, faz movimentos repetidos — como piscar os olhos, bater a mão ou o pé ou mexer nos cabelos — e não olha para a pessoa com quem conversa.

Respeito e incentivo: as melhores atitudes

Além da gagueira, o aluno também tem que lidar com a tensão e a ansiedade que surgem com as críticas. "Ao censurar a criança, o adulto mostra insatisfação com o modo de ela falar. O professor precisa pesquisar sobre como agir e encaminhar os casos a um especialista", afirma a fonoaudióloga Liliane Campos Stumm, professora da Universidade do Sagrado Coração, em Bauru (SP). Ela entrevistou 15 professores de 1ª a 4ª série de uma escola pública da cidade. No início, muitos confundiam gagueira com outros problemas da fala e, apesar da boa vontade, a atitude deles até aumentava a dificuldade. Com o tempo, os professores foram orientados e a maioria dos estudantes passou a fazer terapia. "Eles melhoraram muito não só na fluência mas também na socialização", conta Liliane.
A insegurança e o medo do ridículo geram tanta pressão que as conseqüências são terríveis: a gagueira se agrava, o aluno se isola e seu rendimento cai. Portanto, a atitude positiva dos adultos e dos colegas de classe é essencial. Todos devem ter paciência e evitar interromper o aluno ou chamar a atenção dele. Quando muito pequeno, ele se importa mais com o que quer falar do que como fazer isso. Como não percebe se está se expressando corretamente, não se sente rotulado nem deixa de conversar. Mas, se o adulto ressaltar os seus "erros", a criança começa a dar muita importância ao jeito de falar e fica com medo de abrir a boca outra vez. Isso pode transformar o que seria algo natural da idade em gagueira. "É possível que o problema não se agrave e acabe com o tempo, mas a baixa auto-estima, a dificuldade de se socializar e a insegurança ficam", alerta Leila. Enfrentar isso na infância pode tornar o jovem frustrado e inseguro no futuro. "Um adolescente já me disse que era melhor passar por burro do que por gago", conta Leila.
Fingir que o problema não existe também não resolve. Você é um modelo para a turma. Portanto, se agir espontaneamente com o aluno gago, respeitá-lo e incentivar os colegas a fazer o mesmo, vai ajudá-lo a se sentir aceito e à vontade. Para ensinar a turma a lidar com as diferenças, você pode elaborar atividades ligadas à linguagem em que todos digam o que pensam e sentem, sempre trabalhando o respeito às peculiaridades de cada um. Brincadeiras com rimas, músicas e instrumentos musicais também são úteis. Além disso, olhe sempre nos olhos do aluno. "Manter contato visual e até físico com a criança, como segurar a mão dela, mostra apoio, e não pena", sugere Leila.
Fonte: novaescola.abril.com.br

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