segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ensinar a ler: há vários métodos para juntar as letras


Sintéticos, analítico-sintéticos, globais. Os professores têm várias ferramentas para que as crianças aprendam a ler e os pais não devem ficar de fora deste processo. Da palavra à letra, da letra à palavra, passando pelas sílabas, os pré-requisitos são fundamentais.


Aprender a ler é um passo importante. Há vários métodos para ensinar a juntar as letras e reproduzir os sons e os professores têm a tarefa de escolher um ou mais para que a aprendizagem aconteça. Os pais têm também um papel importante e brincar ajuda a valorizar o processo. Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, referentes aos Censos de 2001, enquanto os números recolhidos este ano ainda não são conhecidos, cerca de 9% da população portuguesa é analfabeta.

A UNESCO, organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, revela que cerca de 16% da população adulta mundial não sabe ler nem escrever, dois terços são mulheres. O Dia Internacional da Alfabetização foi assinalado a 8 de setembro. No nosso país, há sinais de melhorias: 52,4% dos jovens dos 15 aos 24 anos afirmam que a leitura é muito importante para a vida pessoal num inquérito feito em março deste ano, no âmbito da avaliação externa do Plano Nacional de Leitura (PNL). Em 2007, a percentagem era de 30,6%. Em cinco anos de existência, o PNL "ajudou a reforçar as competências de leitura" e agora quase 99% dos professores garantem que os seus alunos leem mais.

"O processo de aprendizagem é complexo. O aluno tem de perceber que as letras reproduzem os sons da fala. Hoje, pede-se ao aluno que analise os sons que produz, a língua oral, antes e em paralelo com a aprendizagem da escrita." Ana Rodrigues, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico, explica o caminho. Há vários métodos de aprendizagem da leitura e da escrita que se situam entre os sintéticos, analítico-sintéticos e os globais. Mas esta aprendizagem requer alguns pré-requisitos linguísticos, cognitivos e até emocionais.

Ana Rodrigues aproveita o que considera oportuno de cada método para que os seus alunos aprendam a ler. O importante é que os mais pequenos tenham já algumas ferramentas como, por exemplo, uma boa discriminação fonológica. E os professores têm a tarefa de trabalhar os pré-requisitos com os alunos. "Por onde tenho passado, os métodos mais utilizados pelos professores são aqueles que se dizem sintéticos ou analítico-sintéticos", refere. E porque existem diferentes métodos? "Diria que se deve a uma busca pelo método ideal. A pedagogia, a psicologia, a linguística, entre outras, vão sofrendo evoluções e os processos baseados nessas disciplinas, como a aprendizagem da leitura, também", responde.

Ana Rodrigues não reteve uma imagem do momento em que aprendeu a ler. "Não me ficou nenhuma recordação", diz. Mas tem um episódio curioso para contar. Há quatro anos, numa turma mista do 1.º e 4.º anos de escolaridade, constatou que, ao contrário do que seria de esperar, foram os alunos do 4.º ano que mostraram interesse pelas matérias e conteúdos da primeira classe. "Não esperava ver os alunos do 4.º ano completamente fascinados com o processo de aprendizagem da leitura e escrita dos do 1.º ano." "Falámos sobre isso e eles, apesar de terem efetuado a aprendizagem da leitura há pouco tempo, não tinham memória, consciência, do desenrolar desse processo", lembra.

Manuela Sousa, professora do 1.º ciclo, refere que o método mais utilizado para ensinar a ler é aquele que acompanha os manuais, ou seja, o sintético. "É evidente, quer seja este método utilizado ou outro, ele nunca estará a ser utilizado de forma exclusiva", avisa. O professor tem a liberdade de misturar métodos. Para a professora, mais importante do que isso são as estratégias utilizadas.

"É necessário haver estratégia, gestão e todo um conjunto de criatividade que permitam ao aluno aprender." A estratégia não pode caminhar em apenas um sentido e os conhecimentos que o aluno tem são importantíssimos para juntar as letras e começar a ler. "Acredito que antes de iniciar qualquer tipo de aprendizagem na leitura e escrita de palavras, frases, textos, há que insistir na parte fonológica. Porque o ‘a' não tem sempre o mesmo som", explica. Para Manuela Sousa, não há uma melhor maneira de as crianças aprenderem a ler. "Há um professor, um orientador".

Neste momento, a articulação entre o pré-escolar e o 1.º ciclo acaba por espicaçar a curiosidade dos mais pequenos que têm ao dispor livros do Plano Nacional da Leitura e que se habituam à presença das letras cada vez mais cedo. Joaquina Quintas, professora do 1.º ciclo, também refere que há vários métodos para ensinar a ler e a escrever. Da palavra à letra, ou da letra à sílaba e depois à palavra, ou das histórias que conduzem à letra, há de tudo um pouco para abrir as portas ao mundo das letras. "Não há um método rígido".

"Normalmente, acaba por haver uma fusão de métodos para uma melhor aprendizagem da leitura e da escrita." Os professores podem escolher e adaptar o que acharem mais conveniente ao grupo que encontram pela frente. Este ano, com o plano de leitura da Língua Portuguesa, os docentes acabam por ter mais formação na área. E se há um aluno que se atrasa? "O professor pode usar outras maneiras de estar no grupo, outro método."

Joaquina Quintas aprendeu a ler da maneira tradicional, da letra à palavra, pela memorização. Há mais de 30 anos no ensino, a experiência mostra-lhe que hoje as crianças aprendem a ler mais cedo e com menos dificuldades. "Têm contacto direto com os livros a partir do pré-escolar, dos três anos, e há muitos jogos didáticos magnéticos, para construírem palavras." Há mais contacto com a TV e com os computadores. A professora do 1.º ciclo chegou a ter alunos que aprenderam a ler com o antigo programa da RTP "Rua Sésamo". Há uma nova maneira de estar que naturalmente se reflete quando os mais pequenos dão os primeiros passos na escola.

Aprender a brincar


Maria José Araújo, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, adianta que as crianças aprendem cada vez mais cedo a ler e a escrever ao observar e ao interagir com os adultos e amigos "em aprendizagens focadas em rotinas, histórias e atividades sociais diferenciadas". "Há uma diferença entre colocar crianças a memorizar letras e números, a fazer fichas estandardizadas sem significado social, e o uso de diferentes formas de grafismo e registo que permitem às crianças a possibilidade de usufruir de uma aprendizagem pela descoberta", sustenta.

Literacia é uma prática social. As crianças devem perceber o interesse e a importância do ato de ler e escrever para que se sintam estimuladas por esse processo enquanto atividade social. Maria José Araújo revela que "há diversos estudos que mostram que os aspetos criativos e lúdicos de introdução e valorização regular da atividade de leitura e escrita, facilitando a consciencialização do que está a ser aprendido - mensagens escritas, etiquetagem de cabides e materiais pessoais, ilustrações, vocabulário visual, desenhos, recados, jogos, coleções de objetos, embalagens, etc. -, são especialmente adequados para incentivar as crianças ao desenvolvimento da linguagem escrita".

Os interesses são diferentes, os níveis e conhecimentos acerca da literacia variam, cada família e cada instituição têm diferentes formas e recursos para incentivar as aprendizagens. As crianças aprendem muito ao brincar, ao jogar, ao imaginar e fantasiar. E os mais velhos têm um papel importante nesse processo. "As crianças vão ao supermercado, ao hospital e a outras instituições onde exercitam constantemente a sua capacidade de leitura. É muito importante pensar no papel do adulto nesta forma de as crianças brincarem, pois é uma vantagem muito grande para a aprendizagem da leitura como prática de cidadania", refere.

Os pais sabem que brincar é fundamental, mas no correr do quotidiano e nas rotinas, esse ato acaba muitas vezes por ser desvalorizado. Ao brincar, os pais podem ajudar os filhos na prática da leitura e na escrita formal. "As consequências para as crianças que não aprendem a ler e escrever são muito grandes, quer a nível pessoal e psicológico, quer a nível social, com implicações a longo prazo", repara. De forma a prevenir essas dificuldades, as investigações sobre o assunto não param. Brincar surge como uma vantagem neste processo. "Muitos professores argumentam que as crianças que têm mais facilidade de aprendizagem dos conteúdos, que exigem desenvolvimento cognitivo na escola, são aquelas que mais brincaram".



Autora: Sara R. Oliveira

2011-09-26

FONTE DE CONSULTA: http://www.educare.pt/educare/Atualidade.Noticia.aspx?contentid=90393CF58673521CE0400A0AB8001D4F&opsel=1&channelid=0

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Filho superprotegido.



Neste artigo vamos tratar de um assunto delicado, mas muito necessário. Para entendê-lo é preciso ler com atenção.


Percebemos claramente no nosso trabalho quão difícil é para o filho superprotegido se dar bem na vida. Além do mais, esta questão a nível psicocientífico é comprovadamente uma realidade: as relações de afeto originadas em filhos superprotegidos, especialmente em filho único.

O Dr. G. Stanley Hall, notável psicólogo americano, afirmava que "ser superprotegido ou ser filho único é, em si mesmo, uma doença". Esta afirmação tão radical poderá ser considerada com muita porcentagem de verdade a nível psíquico. A nível socioeconômico, tem a vantagem dos pais concentrarem no filho único os seus recursos de tempo e especialmente de dinheiro, tornando-lhe tanto quanto possível a caminhada existencial demasiadamente fácil, tornando-o freqüentemente egocêntrico, caprichoso. Parece possuir tudo, toda a superproteção e apoio material, mas, à medida que cresce, instala-se no seu íntimo um vazio, uma sensação de não saber que rumo tomar. Fica inquieto e insatisfeito e tende a maltratar, principalmente o pai.

Os pais são para o filho os referenciais mais poderosos de apoio e segurança. É necessário cuidar dessa confiança, deixar que por si só crie seus alicerces para um crescimento normal, evitando discussões e conflitos na frente da criança, o que a torna insegura, com medo e desprotegida. Deve-se evitar também entrar em desacordo, em desautorização no processo educacional utilizado. Jamais utilizar o recurso da mentira, e deverá haver sempre uma explicação com base verdadeira, seja para o que for, adaptada a uma mente infantil. Esta situação deve ser cuidada especialmente entre os 2 e 7 anos de idade, período de tempo em que as impressões se gravam mais profundamente na mente da criança. Nunca se deve tratar os questionamentos da criança com desatenção, pois a criança capta as coisas no ar, têm dúvidas, procura copiar o que os adultos fazem. Ela entende e sente além de nós, motivo pelo qual as orientações devem ser claras.

A perda da confiança nos seus mais poderosos referenciais conduz a criança também à mentira, à insegurança (as fontes seguras de apoio falharam), provocando uma rebeldia que poderá afetar ao longo da vida. A criança é um verdadeiro radar que capta o real, mesmo parecendo distraída. E, muitas vivências captadas durante a infância, passam para o inconsciente e, mais tarde, as situações traumáticas afloram e criam personalidades distorcidas, mentes confusas e desencontradas.

Nunca se deve repreender nem castigar uma criança na presença de outras pessoas, intimidando-a, introvertendo-a. É preciso entender a forma de pensar da criança, onde muitas vezes não cabe repreensão ou castigo injusto. A mente infantil fica confusa e deformada, e é deveras humilhante e revoltante receber uma repreensão, principalmente em público. Essas são normas básicas da psicologia educacional, mas são tão importantes para o desabrochar no crescimento da criança, pois são noções que a conduzem à construção ou à destruição.

Normalmente, o filho único ou até o filho mais novo na hierarquia familiar, sofre de superproteção: é mimado, e como consequencia, cria-se laços excessivos de dependência que podem ser reforçados e explorados mais conscientemente pela própria criança, a fim de conservar o seu estado de favorito.

Superproteção é dar à criança o que ela não necessita, e as conseqüências são tristes. Em regras gerais, a criança mais inteligente cria um anseio premente de independência e libertação, que a conduz a caminhos desencontrados da sua real necessidade. O menos inteligente, mais amedrontado, que não vivencia tão fortemente a rebeldia, acomoda-se, anula-se e segue dependente, inseguro e permanentemente angustiado.

Quantas mulheres frustradas sentimentalmente, afetivamente solitárias, separadas ou mães solteiras fixam-se no filho, ou filhos, como propriedade. Fazem isso porque é o que elas têm para minimizar a solidão de amor. Por vezes a filha é bem pequena, na sua infância ainda, e a mãe comete o absurdo de torná-la sua confidente, contando suas frustrações de mulher e criando um mundo de culpas contra o pai.



O filho ou filha única suporta todas as cargas, e tendo tudo. Mas, normalmente nunca tem uma infância própria, e na adolescência continua vivendo em função da problemática mãe solitária ou queixosamente doente, quase sempre não dormindo preocupado com o que pode acontecer. Simultaneamente há a desastrosa superproteção, em que a criança nada tem que ajudar, porque está tudo feito, não há responsabilidade de tarefas, há um controle ansioso, um cuidado excessivo que tira da criança a oportunidade de crescer. Então, o jovem mais tarde tenta fugir.

O filho superprotegido, na adolescência ou até mesmo na vida adulta pode tornar-se indolente, exigente, inseguro, mascarado e com atitudes de arrogância, pouco responsável, egoísta, sem defesas psíquicas e sempre fixado especialmente na mãe como referencial seguro onde se pode acolher. Pode, e acontece freqüentemente, tornar-se um adulto insatisfeito, complexado, infeliz e facilmente sujeito à neuroses depressivas (todas estas situações são de análise com base na psicanálise sistêmica e na ciência psíquican pelos diversos casos tratados no IPTH).

Porém, os pais não fazem melhor por ignorância, somatizada ao longo dos séculos. A ignorância da psicologia educacional é a causa primordial de muitas enfermidades psíquicas que podem desencadear graves psicossomatizações, e naturalmente poderiam ser evitadas, desde que haja orientações voltadas à família a respeito de como tratar corretamente o filho. E neste ponto, a estrutura sócio-educacional peca.

Não dar limites ao filho não significa dar Vida. É necessário aprender a ciência única – a ciência da boa vivência familiar – que conduz ao encontro do verdadeiro "Eu", à afinidade vibratória com os sentimentos nobres com que cada ser humano nasce e pode desenvolver. E talvez a Paz pudesse um dia ser uma realidade vivida e sentida na generalidade do Universo Humano, começando dentro dos nossos próprios lares.



Dr. Celso Scheffer

FONTE DE PESQUISA: http://www.ipth.com.br/site/publicacoes/artigos/7-artigos/61-filhos-superprotegidos.html