quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Identificar déficit de atenção é desafio para pais e professores.



Alexandre Farias Torres com o filho Lucas, 13 anos, que apresenta déficit de atenção


Foto: Divulgação
 
As notas começaram a baixar quando o pequeno Lucas estava na terceira série. Cada vez mais, o menino mostrava comportamento agitado durante as aulas e dificuldade de compreender o conteúdo que a professora ensinava. A escola alertou o pai, que procurou tratamento. Depois de alguns testes, o diagnóstico: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).


A pedagoga especialista em orientação educacional Maria Cristina Bromberg defende que os professores são as pessoas mais capacitadas para identificar o problema em um estudante. Foi assim com Lucas, hoje com 13 anos. O pai, Alexandre Farias Torres, conta que o filho começou a tirar notas baixas e a apresentar comportamento agitado. "A professora percebeu que não era uma desatenção comum e me avisou. Levei o Lucas para o psiquiatra e ele foi diagnosticado", conta o morador de São Bernardo do Campo.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 6% das crianças em fase escolar são diagnosticadas com TDAH. Para o psicólogo Fernando Elias José, trata-se de um dos problemas que mais interfere no estudo de crianças e adolescentes atualmente.

A síndrome é caracterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Entre os principais sintomas percebidos em ambiente escolar estão a falta de atenção, cometer frequentemente erros por descuido, não seguir instruções, dificuldade de organização e perda constante de materiais necessários para as tarefas e atividades diárias. "O paciente que apresenta impulsividade costuma realizar brincadeiras inadequadas que podem atrapalhar a turma inteira", afirma Elias José.

Para a pedagoga Maria Cristina, mestre em distúrbios do desenvolvimento, é papel da escola procurar esclarecer as causas dos problemas. "A primeira avaliação deve ser feita por um grupo interno; depois, as preocupações são transmitidas aos pais, mostrando-se opções para um diagnóstico correto, que pede a avaliação de profissionais de outras áreas. Uma vez determinado o problema, pais, professores e terapeutas planejam juntos as estratégias e intervenções a serem implementadas", defende a especialista.

Porém, Elias José alerta para o fato de que a maioria dos professores não está preparada para reconhecer a desatenção como um problema. "Todas as crianças são inquietas, mas aquelas com TDAH são extremamente inquietas e desatentas", diz, completando que não é difícil detectar os alunos com déficit de atenção. "São aqueles que estão sempre com notas baixas, sempre sem material escolar, constantemente atrapalhando a aula por hiperatividade. O problema é que a primeira reação dos educadores é considerar essa criança simplesmente mal educada", diz.

Atualmente, é isso que acontece com Lucas. Depois que foi diagnosticado com a síndrome, o menino de 13 anos mudou de escola e começou um tratamento com medicamento e psicoterapia. "Eu só o troquei de escola porque a de antes era muito puxada, e é muito sofrimento para uma criança com TDAH acompanhar um currículo rígido. Mas, infelizmente, o colégio que ele frequenta agora não o compreende", conta o pai.

Por este motivo, o pai de Lucas decidiu criar o blog Criança Hiperativa, onde escreve sobre o problema e também conta sobre o filho. "Criei o blog para que os professores do Lucas entendessem o que é uma criança com TDAH, mas infelizmente, muitos não têm interesse em se conscientizar sobre este problema que não afeta apenas a ele, mas milhares de crianças pelo mundo todo", fala, completando que seu objetivo não é impedir que o filho seja reprimido, mas sim que seja orientado de forma eficaz.

O psicólogo Elias José defende o tratamento diferenciado para os estudantes com déficit de atenção. "Se a síndrome foi diagnosticada e comprovada, não vejo motivo para que os professores não ajudem essa criança", defende, afirmando que aulas de reforço extraclasse e mais tempo para a realização de uma prova são algumas das atitudes recomendadas.

Nos Estados Unidos, lei exige professor a mais para quem tem TDAH

A pedagoga Maria Cristina ainda afirma que um estudante com TDAH leva de três a quatro vezes mais tempo para fazer uma lição de casa do que seus colegas. Por este motivo, nos Estados Unidos é regulamentada por lei a obrigatoriedade de uma instituição de ensino fornecer um professor a mais para acompanhar uma criança com déficit de atenção. No Brasil, existe um projeto de lei referente ao tema que tramita na Câmara desde 2008. Pelo projeto do Senado 402/08, o poder público deve manter programa de diagnóstico e de tratamento para estudantes da educação básica com dislexia e TDAH. Isso seria feito por meio de uma equipe multidisciplinar, com a participação de educadores, psicólogos, psicopedagogos e médicos.

Apesar de ainda não existir lei nacional, algumas escolas já estão investindo em profissionais especializados no tema. No Rio de Janeiro, a escola particular Esil Educacional oferece o Espaço Integrar, uma sala onde alunos portadores da síndrome recebem orientação de um pedagogo, que além de ajudar em estudos e lição de casa, também pode auxiliar em sala de aula quando necessário.

Porém, a iniciativa ainda é realidade distante para a maioria dos colégios. Hoje, Farias está a procura de uma escola preparada para lidar com seu filho. "Não queria ter que mudá-lo de escola outra vez, pois ele tem muitos amigos lá. Mas está sofrendo, os professores não o orientam e sim o punem. Eles têm um sistema de bilhetes verdes para quem fez algo errado. Todos os dias meu filho recebe um", reclama. "A escola tem um laudo psicológico explicando como o Lucas se comporta e suas dificuldades. Uma delas é o maior grau de déficit de atenção, mas os coordenadores, inspetores e professores, não todos, fazem de conta que isso não existe e preferem lidar com os métodos ditadores", lamenta.

Maria Cristina afirma que os pais devem verificar o nível de conhecimento da direção e dos professores da escola acerca do TDAH. Se houver desconhecimento, os responsáveis devem conversar com o corpo docente para ver se este está disposto a aprender e a auxiliar o estudante de maneira adequada. Para a pedagoga, se a resposta for negativa, é melhor nem arriscar. A especialista ainda explica que a melhor escola para uma criança com a síndrome é aquela que busca desenvolver o potencial específico de cada um, reforçando os pontos fortes e superando os pontos fracos.




FONTE: http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias/0,,OI5463124-EI8266,00-Identificar+deficit+de+atencao+e+desafio+para+pais+e+professores.html

Medicalização da educação !!



Doenças inventadas


"Nós estamos vivendo um momento na sociedade e no mundo em que a vida está sendo muito medicalizada. Medicalizar é transformar, artificialmente, problemas coletivos, de ordem política, social, cultural e de educação em doenças individuais.

"Hoje, não existe mais tristeza, só depressão. A criança que tem um comportamento que não satisfaz ou incomoda os adultos, é transformada em doente. Quando se busca a comprovação dentro do rigor da ciência médica, isso não existe".

Medicalização de crianças transforma modo de ser em doença

Este alerta foi dado pela médica e pesquisadora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Maria Apparecida Moysés, durante a abertura do Fórum "Educação Medicalizada: dislexia, TDAH e outros supostos transtornos".

Medicalização

A aprendizagem e os modos de ser e agir - campos de grande complexidade e diversidade - têm sido alvos preferenciais da medicalização.

A medicalização controla e submete pessoas, abafando questionamentos e desconfortos, oculta violências físicas e psicológicas, transformando essas pessoas em "portadores de distúrbios de comportamento e de aprendizagem".


"Quando a criança tem uma dificuldade ou modo de comportamento diferente, é muito simples você dizer que é uma doença e dar um remédio. Essa criança, muitas vezes, está vivendo um conflito nas relações entre pessoas do entorno dela. Precisamos enxergar isso", disse Apparecida Moysés.

Diagnósticos incorretos

Quase 75% das crianças e dos adolescentes brasileiros que tomam remédios para déficit de atenção não tiveram diagnóstico correto, segundo um estudo realizado por psiquiatras e neurologistas da Unicamp, USP, Instituto Glia de Pesquisa em Neurociências e Albert Einstein College of Medicine (EUA), apresentado no 3º Congresso Mundial de TDAH, ocorrido na Alemanha.

A pesquisa colheu dados de 5.961 jovens, de 4 a 18 anos, em 16 Estados do Brasil e no Distrito Federal.

Problemas medicalizados já consomem mais recursos do que o câncer

"Essas crianças não deveriam estar tomando medicação e estão," disse a psicóloga da USP de São Paulo Marilene Proença R. Souza, que promove nesta sexta (11), em São Paulo, juntamente com o Conselho Regional de Psicologia, o II Seminário Internacional: a educação medicalizada - dislexia, TDHA e transtornos.

Medicalização da educação.

Carmen Zink, da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), destacou ser importante a participação de pedagogos, professores e pais na discussão da medicalização da educação.

"Houve um deslocamento de responsabilidade e precisamos ouvir o que a área da saúde tem a dizer", disse Carmen. "As mudanças que aconteceram na história da humanidade foram pelos questionamentos, sonhos e utopias. Ao medicalizar, estamos abortando um futuro diferente, sem criatividade", concluiu Apparecida Moysés.


FONTE : http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=doencas-inventadas-medicalizacao-educacao&id=7134

Problema com matemática pode ser discalculia.



Problema com matemática pode ser discalculia.

Parente da dislexia, a discalculia é distúrbio que faz com que portador tenha problemas com números

MICHELI NUNES

15/11/2011 20:13
micheli.nunes@diariosp.com.br

Quando a criança apresenta dificuldades na escola, muitas vezes pais e educadores pensam em dislexia, problema com a leitura que prejudica o aprendizado. Mas existe outro distúrbio que também afeta o desempenho escolar e é bem menos conhecido: a discalculia. “A dislexia pode ser definida como uma falta de coordenação cerebral. O hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pela lógica, possui uma hipertrofia, ou seja, cresce demais, causando problemas no lado direito, responsável pela leitura”, afirma o pediatra Ivan Pollastrini Pistelli.

Parente da dislexia, a discalculia funciona de maneira parecida, fazendo com que a criança tenha problemas não apenas em ler, mas também em calcular e compreender números. A hipertrofia do hemisfério direito do cérebro– lado contrário da dislexia – pode ser a principal causa do problema. “Quem sofre de discalculia é incapaz de compreender e realizar contas matemáticas básicas, o que impede a aquisição de conhecimento mais completo”, afirma o neuropediatra Paulo Breinis, do Hospital Infantil Sabará.

Breinis alerta que, como não é tão conhecida, a doença acaba sendo diagnosticada tardiamente, prejudicando a vida social e a autoestima da criança. “Ao ser negligenciando, o problema costuma virar uma bola de neve. Há casos de crianças que começam a se sair mal na escola, são reprovadas e abandonam os estudos. Em outras situações, são vítimas de bullying ou perseguição dos próprios pais, que associam o problema à preguiça ou à falta de empenho na escola.”

De acordo com Pistelli, quem sofre de dislexia ou discalculia pode apresentar talentos surpreendentes. “A maioria das crianças que desenvolve estes distúrbios é muito esperta. Das que sofrem de dislexia, por exemplo, muitas desenvolvem talentos superiores a de outras crianças nas áreas lógica e numérica. Os pais devem ficar atentos aos sinais e, se houver possibilidade de que o filho sofra do distúrbio, devem procurar um psicólogo ou pediatra.”

Assim como a dislexia, a discalculia não costuma ser tratada com medicação. Segundo Breinis, o tratamento envolve treinamento e aulas extras de matemática.
O neuropediatra explica ainda que é comum as crianças apresentaram discalculia e dislexia simultaneamente.

“Nestes casos, é importante que o tratamento envolva uma equipe multidisciplinar, formada por neurologista, psicóloga e fonoaudiólogo e pedagogo”, recomenda.


FONTE: http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/4294/Problema+com+matematica+pode+ser+discalculia

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Vestibulares permitem tempo extra e acompanhante para disléxicos em prova - Guia do Estudante

Vestibulares permitem tempo extra e acompanhante para disléxicos em prova - Guia do Estudante

Dificuldade em ortografia e redação pode ser sintoma de dislexia - Guia do Estudante

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A nova arte de aprender - Superinteressante

A nova arte de aprender - Superinteressante








Aulas que começam às 11 h e duram 15 minutos, provas toda semana e o retorno da alfabetização fonética. A ciência está revolucionando o que se sabe sobre como aprendemos. Agora essas descobertas chegam à sala de aulapor Texto Pedro Burgos


Pergunte a seus pais como eram as aulas na escola deles. Tirando os castigos e o fato de educação sexual ou ecologia não figurar nos livros, as coisas não eram lá muito diferentes de hoje. Professor na frente da turma, escrevendo a matéria no quadro e explicando o con­teúdo, alunos anotando tudo para serem testados em provas, semanas depois. Há décadas o modelo é o mesmo.


O problema é que, do tempo da escola dos nossos pais até hoje, a ciência descobriu muita coisa sobre o caminho que a informação faz quando sai do quadro-negro, livro ou computador, passa pelos olhos e ouvidos e se transforma em memória. Há 10 anos, pedagogos e psicólogos tinham o monopólio das teorias sobre o assunto. Mais recentemente, cientistas de outras áreas resolveram estudar o chamado sistema cognitivo. “Quanto mais aprendemos sobre como nosso cérebro processa e armazena novas informações, mais des­­­­cobrimos que nosso sistema educacional está errado”, diz Jamshed Bharucha, doutor em psicologia cognitiva pela Universidade Harvard, dos EUA. As pesquisas têm derrubado mitos, apontado métodos mais eficazes e comprovado o que psicólogos, filósofos e pedagogos já falam há décadas: uma sala de aula deve ser mais do que esta que está aí.

Não que os cientistas tenham descoberto fórmulas mágicas de ensino. Na verdade, grande parte do que se fala sobre o cérebro e a educação é bobagem (conheça os 6 “neuromitos” ao longo desta matéria). “Há um buraco entre o estado atual da neurociência e sua aplicação direta na sala de aula. Mesmo assim, os professores têm acesso a vários programas de ensino baseados no cérebro”, afirma Usha Goswami, diretor do Centro para Neurociência na Educação da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo na revista Nature de junho. “Alguns desses pacotes têm quantidades alarmantes de informações erradas.”

Mas há descobertas quentes envolvendo a aprendizagem como uma atividade de todo o corpo. “Quan­do um professor en­tende o cérebro, conclui que ele precisa de nutrientes, e o aluno precisa estar bem alimentado; que uma sala pouco ventilada diminui a atenção e que a memória depende do sono”, diz Leonor Guerra, pesquisadora de neurociência da UFMG. “Estudos nessa direção estão baseando as mudanças na maneira de educar.”

Menos horários

Primeira mudança: as aulas dos adolescentes devem começar mais tarde, lá pelas 11 horas. Para a Fundação Americana do Sono, dos EUA, o hábito dos adolescentes de matar a 1ª aula, chegar atrasado na 2ª e tirar um cochilo na 3ª não é pura vagabundice da idade. Nem é porque os jovens fumam maconha demais. Mas é fruto dos hormônios da adolescência, que pedem pelo menos 9 horas de sono por dia e fazem a atenção dos jovens só atingir o pico às 11 horas.

A escola deveria se adaptar a esse metabolismo diferente. Uma pesquisa da fundação mostrou que 60% dos adolescentes têm sono de manhã – bem mais que as crianças. Ou seja: o horário segue uma lógica inversa. As crianças, que geralmente acordam cedo, costumam estudar à tarde, e quando viram adolescentes precisam responder chamada às 7h15.

O problema é que implementar uma mudança no horário alteraria toda a rotina e os horários da família. Mas escolas americanas que transferiram o início das aulas das 7h15 para as 8h40 tiveram alunos mais atentos. Na região da Nova Inglaterra (EUA), a mudança foi a­com­panhada por cientistas e documentada. As pesquisas mostraram que a média das notas aumentou (ainda que timidamente), as faltas caíram e os alunos passaram a ter menos sono.

Outra pesquisa sobre o sono e seu impacto sugere uma mudança mais radical: instituir a sesta depois de uma aula puxada. Um estudo da Universidade Harvard mostrou que, ao passar por aulas que exigiam muita atenção, os alunos lembravam-se mais do conteúdo quando tiravam uma sonequinha de 30 a 50 minutos.

Mais provas

Além do horário de início da aula, há uma outra convenção sem base científica: aulas que duram 50 minutos. “É muito tempo para o cérebro de uma criança. Nos 10 primeiros minutos de aula a atenção do aluno é boa. Se a informação for importante, ele segura a atenção; de outra forma, dispersa”, diz Leonor Guerra, da UFMG. “É importante dividir esse tempo em atividades diferentes.”

Para saber o tanto que os alunos prestam atenção na aula, uma escola perto de Newcastle, na Inglaterra, virou um verdadeiro laboratório de aprendizagem. A diretoria decidiu testar o mesmo conteúdo em turmas diferentes com métodos completamente distintos. Em uma delas, a matéria do dia seria formatada em seções de 8 minutos. Depois disso, uma pausa de 10 minutos, com brincadeiras que não tinham nada a ver com a disciplina. Mais 8 minutos do mesmo conteúdo. Pausa de 10 minutos, outra revisão. A retenção do conteúdo foi muito maior que a partir do método comum, mostrando que no começo da aula a criançada presta atenção se o conteúdo for interessante. E, se houver pausas, melhor ainda.

Outro problema da educação convencional é a semana de provas. Você se acha meio devagar por ter estudado para um monte de matérias e dali a 6 meses não lembrar de mais nada? Calma, há uma explicação científica. Segundo Bharucha, de Harvard, quando há muitas provas de diferentes matérias em pouco tempo, a chance de o aluno reter as informações é muito menor do que se a avaliação fosse dispersa no tempo. “Uma escola ideal tende a ter avaliação baseada na matéria estudada, e não no tempo que o aluno assiste às aulas”, diz Fredric Litto, professor da Escola do Futuro da USP , núcleo que pesquisa novas formas de educação. “Assim, um curso pode durar 3 horas, 3 dias ou 3 semanas, e não necessariamente 3 meses.”

Menos diferença

Na última década, virou bandeira da educação no Brasil a inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas comuns e o fechamento de instituições só para cegos, surdos ou autistas. A idéia por trás dessa política é fazer as crianças conviver com as diferentes e respeitá-las desde cedo. A teoria é bonita, mas encontra restrições entre alguns cientistas.

Um estudo da USP avaliou 7500 alunos surdos congênitos (que raciocinam em libras, a linguagem dos sinais) e deficientes auditivos (que raciocinam em português) de 15 estados brasileiros. A con­clusão é que a escola especial para surdos, que ensina em libras, produz melhor compreensão de leitura que a escola comum traz para surdos. Na Inglaterra, segundo a Associação Nacional dos Autistas (NAS, em inglês), 2 em cada 5 alunos com esse problema são vítimas de bullying nas escolas comuns (agressões psicológicas e até físicas de outras crianças), o dobro da taxa dos outros alunos. “Nós agora temos mais capacidade de rea­lizar uma educação mais personalizada e inclusiva, na medida em que entendemos quais as causas de dificuldades dos estudantes”, afirma Koji Myiamoto, autor de Understanding the Brain: The Birth of a Learning Science (“Entendendo o Cérebro: O Nascimento de uma Ciência do Aprendizado”, sem edição brasileira).

Se antes um aluno que não se saía bem era tachado de fraco e tinha como receita “se esforçar mais”, hoje já se conhece a origem de problemas que dificultam o aprendizado e os meios de combatê-los. Testes mais precisos conseguem detectar bem cedo problemas como dislexia, déficit de atenção, hiperatividade ou acalculia (dificuldade com números). O teste mais comum é a ressonância magnética funcional (RMF). Eletrodos colados com esparadrapo na cabeça do paciente identificam as áreas do cérebro que se ativam com um estímulo exterior. Assim, percebem se há regiões menos desenvolvidas ou se a informação está sendo processada em outra região.

O cérebro de pessoas com essas dificuldades processa as informações de maneira um pouco diferente. No caso dos disléxicos, há uma anomalia no hemisfério esquerdo do cérebro que, na prática, torna difícil para a pessoa atribuir corretamente o som a um símbolo gráfico. Em outras palavras, durante a alfabetização, quem tem dislexia pode ler uma letra e não saber como pronunciá-la. Alunos com essa dificuldade precisam de atenção especial, planos de aula distintos e mais tempo para aprender.

A educacão personalizada tem se mostrado eficaz até quando as crianças são educadas em casa. Nos EUA, geralmente por causa da religião da família, já há 2 milhões de crianças estudando com os pais ou com o apoio dos pais ou de professores particulares – coisa que não é reconhecida por lei no Brasil. Nos testes públicos de avaliação de desempenho, as crianças com educação doméstica têm notas 30 a 37% melhores que seus colegas das escolas públicas e privadas. “Mas não se deve subestimar o papel crucial da interação social em todos os modos de aprendizado”, afirmam os autores do livro Understanding the Brain.

Mais sílabas


Outra forte linha da pedagogia que hoje se questiona é o construtivismo. Segundo essa teoria, que tem o francês Jean Piaget como principal nome, a pessoa aprende de verdade não por meio da memorização de conteúdos fornecidos pelo professor, mas quando ela própria constrói o conhecimento, por atividades como gincanas ou caças ao tesouro. Legal, não?

Aplicado à alfabetização, o construtivismo rejeita livros didáticos. Nada de aprender sílabas usando frases como “I-vo viu a u-va”. Na versão brasileira da alfabetização construtivista, a criança vai tendo contato com palavras e imagens, tentando associar a palavra inteira ao contexto. Esse método é o contrário do fonético, onde o caminho é aprender o código: primeiro o som das letras, depois das sílabas e como elas formam palavras, que ganham sentido na frase.

O Brasil é dos únicos países no mundo a adotar a alfabetização construtivista. Para os críticos desse método, ela tem ajudado a produzir altos índices de analfabetismo funcional – quando a pessoa sabe ler, mas não consegue interpretar o texto. “Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas”, afirma Magda Soares, professora de educação da UFMG. Some-se a isso o fato de o Ministério da Educação ter dado como diretriz evitar a repetência de ano e o que se vê é que, das 27000 escolas públicas de 1ª a 4ª séries avaliadas pelo último Prova Brasil, só 166 têm média comparável à dos países desenvolvidos. “Na verdade, a política de não repetir os alunos disfarça o fracasso do monopólio da pseudoalfabetização construtivista que dominou o Brasil nos últimos 25 anos”, dispara Fernando Capovilla, professor do Instituto de Psicologia da USP.

Se a ciência ainda não tem fórmulas mágicas para transformar todas as crianças em gênios, aos poucos vai facilitando a vida dos alunos. E não há motivo para desencorajar essas pequisas. Afinal, se sabemos que a educação está longe de cumprir o que promete, por que não tentar diferente?