quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Projeto - 30/07/2008 14h05


Exercício da psicopedagogia pode ser regulamentado

Gilberto Nascimento




Raquel Teixeira: atuação do psicopedagogo é fundamental na melhoria do ensino

A Câmara analisa o Projeto de Lei 3512/08, da deputada Professora Raquel Teixeira (PSDB-GO), que regulamenta o exercício da psicopedagogia. De acordo com a proposta, essa profissão poderá ser exercida pelos portadores de diploma em curso de graduação em Psicopedagogia ou pelos portadores de diploma de Psicologia, Pedagogia ou Licenciatura que tenham concluído curso de especialização em Psicopedagogia. A especialização deverá ter duração mínima de 600 horas e carga horária de 80% na especialidade.



Além desses, os portadores de diploma de curso superior que já venham exercendo ou tenham exercido, comprovadamente, atividades profissionais de psicopedagogia em entidade pública ou privada, até a data de publicação da lei, também terão direito ao exercício da atividade.



Atribuições

Entre as atribuições do psicopedagogo estão a intervenção para a solução dos problemas de aprendizagem; a utilização de métodos, técnicas e instrumentos que tenham por finalidade a pesquisa, a prevenção, a avaliação e a intervenção relacionadas com a aprendizagem; e o apoio psicopedagógico aos trabalhos realizados nos espaços institucionais.



Para Raquel Teixeira, a resposta para o desafio da qualidade da educação é a prática psicopedagógica exercida por um profissional especializado. Segundo ela, a atuação desse profissional busca não apenas sanar problemas de aprendizagem, mas melhorar o desempenho do aluno e aumentar suas potencialidades.



Proposta semelhante a essa, como lembra a parlamentar, foi apresentada pelo ex-deputado Sebastião Barbosa Neto em 1997 e foi arquivada ano passado, sem apreciação pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. "Decorridos mais de dez anos, este tema continua muito atual, impondo-se ainda hoje a aprovação de uma lei que regulamente a profissão", avalia Raquel Teixeira.



A deputada destacou que retirou do projeto original a previsão de criação dos conselhos federal e regionais de psicopedagogia, pois, segundo explica, por se tratarem de autarquias públicas, a iniciativa para sua criação é privativa do Poder Executivo. A proposta prevê ainda as infrações disciplinares e as punições correspondentes para os profissionais.



Tramitação

O projeto será analisado em caráter conclusivo pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.



Íntegra da proposta:

- PL-3512/2008



Notícias anteriores

Projeto prevê medidas para identificar a dislexia



Reportagem - Cristiane Bernardes

Edição - Maria Clarice Dias



(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara')



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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Recusa em não ir à escola pode não significar uma simples preguiça

Recusa em não ir à escola pode não significar uma simples preguiça


quarta, 16.09.2009, 08:39pm (GMT-3)

Mãe, não quero ir à escola hoje!" Na maioria das vezes, essa reclamação das crianças é entendida pelos pais como uma manifestação de preguiça de estudar. Mas, se o hábito se repete com frequência e o rendimento em sala de aula caiu, vale observar.




A dificuldade no aprendizado ou a falta de vontade de ir à escola pode sinalizar a insegurança da criança diante de alguma situação ou até problemas mais graves como dislexia ou até depressão. "A primeira atitude a se tomar quando isso acontece é avaliar se há algo de errado dentro de casa", explica a terapeuta familiar Tânia Vieira.



Um novo acontecimento pode interferir no comportamento da garotada. A chegada de um irmãozinho, a separação dos pais, a perda de um ente querido, do bichinho de estimação ou a aquisição de um brinquedo podem alterar o estado emocional da criança. Dependendo da situação, ela pode se sentir desmotivada, carente, solitária e tentar chamar a atenção dos pais negando o espaço escolar ou focar a atenção num videogame novo, por exemplo, fazendo com que não queira se afastar do objeto que tanto a seduz.



Diante da recusa de encarar os estudos, o segundo passo é conversar com a criança e perguntar como é a rotina dela na escola. Saber quais aulas e professores mais gosta, o que faz nas horas de descanso, como é a turma de amigos ajudam a desenhar a imagem que seu filho tem do ambiente de ensino. "Muitas vezes, o motivo é o desentendimento com algum colega ou problemas com um professor", diz a psicopedagoga Albertina Chraim. "Nesse caso, os pais devem procurar a escola e conversar com os educadores e com o diretor para encontrar uma solução."



Assumir a dificuldade é o primeiro passo para o entendimento

Quando o problema é de aprendizado, por exemplo, o importante é quebrar os preconceitos e detectar os motivos da dificuldade. "Embora a criança sinalize com sua indisposição que alguma coisa vai mal na escola, os pais muitas vezes têm dificuldade de entender o que realmente está acontecendo e geralmente acabam interpretando o gesto como preguiça ou frescura", diz Tânia. "Também ocorre de os pais perceberem que a criança está com dificuldades, mas preferirem não aceitar por medo da concepção que se tem de que inteligência e bom desenvolvimento escolar estão intrinsecamente ligados", explica ela.



Como detectar o problema?

De acordo com a psicopedagoga Patrícia Gouveia Ferraz, a melhor maneira de detectar se a criança tem problemas em aprender é prestar atenção na maneira como ela se comporta diante das tarefas escolares. "Observar se a criança lê muito perto do papel, se escreve na ordem invertida ou se tem dificuldade de prestar atenção na aula são atitudes primordiais para detectar problemas de ordem cognitiva, como dislexia e hiperatividade, ou algum distúrbio de visão, que podem gerar um sentimento de inferioridade na criança fazendo com que ela não queira ir à escola", afirma.



Super-proteção também atrapalha

Uma outra razão comum para a recusa da criança em estudar ou de seu baixo desempenho nas aulas é a super-proteção dos pais que, para evitar que os filhos sofram, resolvem todos os seus problemas e retiram deles a responsabilidade de enfrentar os obstáculos sozinhos, tornando-os inseguros e despreparados para lidar com as novidades. "A capacidade de autoconfiança da criança fica desestabilizada e ela tende a rejeitar tudo aquilo que supostamente a ameaça", explica a terapeuta Tânia Vieira.



Paz para estudar

Fenômeno muito comum nas escolas, o bullying também é um dos motivos que afasta crianças e adolescentes do colégio. Sem tradução para o português, o termo compreende todas as formas de agressão (física ou verbal) praticadas por um ou mais estudantes contra outro. Os ataques são realizados de maneira intencional e repetitiva sem motivação evidente e executados dentro de uma relação desigual de poder, causando dor, medo e angústia. Entre as ações características de bulliyng estão colocar apelidos ofensivos, humilhar, perseguir, machucar, dentre outras. "Quando se percebe que a criança está sendo vitima, o ideal é conversar com educadores, com a criança e, dependendo da gravidade do caso, procurar ajuda psicológica e até mudá-la de colégio", explica Patrícia.





Quatro dicas para ajudar seu filho a vencer os medos da escola

- Se o problema for ciúme do irmãozinho, a separação dos pais ou outros problemas familiares, mostre a ele que, por mais que o núcleo familiar tenha se alterado, o lugar dele de filho não mudou.



- Caso a dificuldade seja proveniente de motivações cognitivas, como dislexia, déficit de atenção ou hiperatividade, procure um especialista e converse com a criança para que ela entenda que não é diferente dos coleguinhas de sala, apenas tem mais dificuldade em uma habilidade, enquanto os outros também têm suas limitações.



- Evite sobrecarregar a criança sem antes observar se ela consegue dar conta de tantos afazeres. A indisposição pode ser resultado de cansaço mental e isso faz com que a rotina, que deveria ser prazerosa, se torne estressante e afaste seu filho da escola. "Às vezes, a sobrecarga é até positiva, pois a criança canaliza suas energias para o aprendizado, mas quando deixa de ser prazeroso para ser uma obrigação, pode trazer problemas mais sérios", afirma Tânia Vieira.



- Converse com educadores e psicopedagogos se suspeitar que a criança está sendo vítima de bullying para que, juntos, encontrem a melhor solução.

FONTE DE PESQUISA: http://www.correiodopovo-al.com.br/v2/index.php

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A guerra dos hemisférios cerebrais

Uma proteína que funciona como um imã e outra, espécie de comparsa, que a ajuda a atrair mais neurônios para o lado esquerdo do cérebro. Não é uma competição equilibrada, mas o resultado final é desejável: que os hemisférios cerebrais sejam distintos tanto do ponto de vista anatômico como funcional. Especializados, eles trabalham de forma mais eficiente.

A assimetria hemisférica do cérebro já é conhecida há muito tempo, mas só agora os cientistas começam a entender como ela é esculpida. Pesquisadores da University College de Londres, Inglaterra, descobriram que uma proteína chamada Fgf8, encontrada em ambos os lados, orienta a migração de células nervosas. Seria uma luta justa se outra proteína, conhecida como Nodal, presente apenas no lado esquerdo, não facilitasse o trabalho da Fgf8 nessa mesma metade.

Embora a pesquisa tenha sido feita com peixes paulistinha (Danio rerio), os cientistas esperam resultados semelhantes em outras espécies e inclusive no ser humano, pois a assimetria hemisférica é um fenômeno amplamente difundido no reino animal e se manifesta logo na vida embrionária. Em humanos, evidências como essa, podem ajudar a entender por que alguns distúrbios psiquiátricos, como a esquizofrenia, estão associados a hemisférios cerebrais menos assimétricos. O estudo foi publicado na revista Neuron.

Múltiplas inteligências: Howard Gardner.

Para o psicólogo americano Howard Gardner, criador da teoria das habilidades múltiplas, a predisposição genética e as experiências vividas na infância podem favorecer nossos “computadores mentais”. Em sua opinião, é mais importante estimular do que medir os recursos mentais




“Não deveria valer apenas a nota tirada na prova de matemática, mas o respeito pelo outro e o tipo de ser humano que nos revelamos” - Howard Gardner


por Daniele Fanelli

O ser humano tem muitos tipos de inteligência. A hipótese do psicólogo Howard Gardner, formulada em 1982, o tornou conhecido mundialmente. Passados 25 anos, ele sustenta haver, além das reconhecidas habilidades lingüística e lógico-matemática, outras seis formas de inteligência: espacial (mais presente em navegantes e engenheiros); corporal-cinestésica (desenvolvida em atletas ou dançarinos); interpessoal (representada pela capacidade de compreensão dos sentimentos do outro); intrapessoal (expressa pelo autoconhecimento); naturalística (referente à relação da pessoa com a natureza) e musical. Professor da Universidade Harvard, Gardner é considerado um dos “demolidores” do conceito de quociente de inteligência (QI). Suas teorias, entretanto, têm pequena aceitação entre neurobiólogos. Resenha publicada recentemente na revista Educational Psychologist menciona a insuficiência de comprovação empírica. A possibilidade de medir a inteligência pela aplicação de testes simples parece ser um critério para validação das hipóteses.

Artigo publicado em 2004 pela revista Nature Neuroscience relacionava o desenvolvimento de competências a fatores socioeconômicos e a aspectos biológicos como dimensões do cérebro, duração da memória de curto prazo, velocidade de transmissão sináptica e metabolismo neuronal. No mesmo ano foi observada correlação entre o QI de bebês e a velocidade de crescimento do córtex cerebral. Tais descobertas não parecem perturbar o prolífico Gardner, que tem sua teoria aplicada com eficácia em escolas de todo o mundo. Nesta entrevista, ele declara-se mais interessado em estimular virtudes e talentos humanos do que em medi-los.

Mente&Cérebro: O senhor poderia resumir sua teoria da inteligência múltipla?
Howard Gardner: A visão tradicional a respeito da inteligência, que prevalece há centenas de anos, sustenta que em nosso cérebro existe um único computador, de capacidade muito geral. Quando funciona bem, a pessoa é inteligente e capaz de destacar-se em qualquer atividade. Se o desempenho for apenas razoável, o portador consegue resultado satisfatório em diversas circunstâncias. Mas se funcionar mal, o dono desse equipamento é um tolo, incapaz de estabelecer relações coe-rentes. Discordo disso tudo. Creio que a relação cérebro-mente pode ser descrita como um conjunto de oito ou nove sistemas distintos de elaborações fundamentais. Um deles pode atuar muito bem enquanto outro apresenta rendimento mediano e um terceiro funciona mal.

Qualquer observador admitiria que na patologia há fenômenos que sustentam minha hipótese. Existem pessoas dotadas de grande talento artístico ou com habilidade para números e xadrez que, no entanto, são incapazes de compreender os outros e manter relacionamentos. A medicina oficial as considera casos patológicos, mas eu sustento que esses fenômenos são normais.

M&C: Vejamos um exemplo: como o senhor avalia a sua mente?
Gardner: Com base na teoria da inteligência múltipla eu sou, certamente, do tipo lingüístico-musical. Minha lógica é boa, mas jamais fará de mim um matemático. Fisicamente não sou nada especial e sou medíocre na inteligência espacial, mas me viro bem com um mapa. A inteligência interpessoal, diferentemente de outras, pode ser melhorada. Assim, espero continuar aprimorando minha capacidade de compreender outros.

M&C:Uma das principais objeções à sua teoria é a impossibilidade de medir as oito formas de inteligência.
Gardner: Se eu estivesse de fora observando meu trabalho, é provável que dissesse a mesma coisa. Trata-se de uma crítica bem razoável. Mas estou certo de que, se minhas idéias forem um dia levadas a sério, algum pesquisador desenvolverá instrumentos capazes de medir as várias inteligências. Mas para mim isso jamais foi uma prioridade. Não me dediquei ao tema. Robert J. Sternberg [pai da teoria “triárquica”, segundo a qual a inteligência se manifesta em três modalidades distintas: analítica, criativa e prática] tentou fazê-lo no âmbito de sua pesquisa, mas os resultados não me pareceram muito convincentes. Posso deduzir que ou suas teorias são equivocadas, ou medir as diversas inteligências humanas é tarefa mais complicada do que parece.

M&C: Mas a psicometria clássica faz medições. As pontuações que a pessoa obtém nos diversos testes verbais e lógicos estão correlacionadas, o que sugere a existência de uma inteligência “geral”. O QI está vinculado a diversos parâmetros biológicos. O que o senhor pensa sobre isso?
Gardner: Levo a sério essa questão e, se tivesse de reescrever meu livro sobre a inteligência múltipla, trataria mais do tema. Mas há fenômenos que esses estudos não explicam, em particular as razões que nos tornam tão diferentes uns dos outros. Um cientista pode passar a vida tentando acumular provas da existência de uma inteligência geral, mostrando como esta se correlaciona a este ou aquele fator; ou pode tentar explicar por que as pessoas têm habilidades tão diversas, quais as causas dessas diferenças e a que servem.

M&C: Mas as duas coisas não se contradizem. Podemos fazer uma analogia com os músculos do corpo, que se desenvolvem de forma desigual em cada pessoa. Isso não impede que algumas pessoas possuam – graças à combinação de genes, alimentação e exercícios físicos – estrutura muscular bem mais desenvolvida e potente que outras. Nem todos podem se tornar um Schwarzenegger. O que vale para os músculos não poderia valer para os neurônios?
Gardner: Tenho a mente aberta em relação à questão. Caso eu viva mais 30 ou 40 anos e a ciência identifique uma propriedade biológica fundamental – por exemplo, a velocidade de transmissão nervosa ou a plasticidade das conexões entre os neurônios – que explique uma parte maior ou menor das diferenças de inteligência, estarei pronto a rever meu pensamento.

Mas isso não esclarece as razões para alguém ser mais capaz em certos setores que em outros. A resposta pode ser simplesmente que a vida humana não é infinita, e, portanto, não podemos ser excelentes em tudo. Penso que a explicação mais plausível esteja na predisposição genética e nas experiências infantis capazes de “estimular” e potencializar um dos computadores mentais de que dispomos. Um gênio poliédrico como Leonardo da Vinci é exceção, e não regra. E devemos explicar ainda a origem das diferenças nos perfis e talentos.

M&C: O senhor usa os termos “inteligência” e “talento” como sinônimos. Mas, para a maioria das pessoas, esses termos se referem a conceitos bem distintos.
Gardner: De fato. Mas, ao privilegiar o termo “inteligências” em vez de “talentos” ou “habilidades”, fiz um movimento retórico importante. Todos reconhecem a existência de diferentes talentos e habilidades humanas, e provavelmente eu não estaria aqui sendo entrevistado se tivesse usado essas palavras em vez de “inteligências”.

M&C: O que o senhor entende por inteligência?
Gardner: O ponto é que a definição de inteligência não é óbvia. Trata-se de algo debatido por estudiosos e leigos. Segundo minha análise, os pesquisadores orientados pela cultura escolástica se concentraram nas habilidades verbais e lógicas, denominando as “inteligência”. É uma questão de retórica e lingüística. Não é “a” resposta correta. As pessoas com bom desempenho em línguas e lógica são, em geral, bons alunos, e nós as classificamos inteligentes. Nada tenho contra isso, desde que se fale em “inteligência escolástica”. Se, porém, sairmos da escola e estudarmos a inteligência de arquitetos, bailarinos ou comerciantes, descobriremos que podem ser excelentes naquilo que fazem, independentemente do desempenho escolar. Se os homens de negócio tivessem inventado o QI, a avaliação mediria, provavelmente, atitude em relação a risco, iniciativa e capacidade de vender. Nenhuma dessas coisas é medida pelos testes clássicos de inteligência.

M&C: Mas isso não ameaça relativizar o conceito de inteligência, esvaziando-o de seu significado intuitivo e científico?
Gardner: A ciência não deve, necessariamente, reforçar o senso comum, muitas vezes equivocado. Minhas pesquisas, além disso, atingem o campo das ciências sociais, diferentes da física ou da biologia, justamente porque devem sempre elucidar os próprios conceitos, propondo definições novas e mais adequadas. O filósofo Bertrand Russell disse certa vez que as idéias de todos os grandes pensadores podem ser resumidas em uma ou duas frases: o que os torna notáveis é a estrutura argumentativa que criaram para sustentar as afirmações e defendê-las das críticas. Se eu transmitir às pessoas apenas o conceito de que, além da escolástica, existem outras formas de inteligência, já será um enorme progresso. Creio que já alcancei algo nesse sentido. Mas Daniel Goleman conseguiu ainda mais, pois seu conceito de “inteligência emocional” tem apelo intuitivo, aludindo às experiências do cotidiano, sobretudo no mundo do trabalho. O gerente de uma empresa pode ter a mente perfeitamente organizada e revelar-se um desastre para motivar funcionários. A diferença entre nossas pesquisas é que estabeleci oito critérios a serem atendidos por uma suposta inteligência (ver quadro na pág. 36).

M&C: Há poucos anos o senhor identificou a existência de uma oitava inteligência, a naturalística. Pensa em acrescentar outras?
Gardner: Escrevi bastante a respeito da possibilidade de uma inteligência moral. Até há pouco tempo era cético quanto a isso, mas mudei de idéia depois de algumas leituras, em particular o livro escrito pelos neurobiólogos Jean-Pierre Changeaux e Antonio Damásio. Avalio a possibilidade de uma inteligência existencial, mas o problema é saber se é diferente de qualquer outra capacidade filosófica. Se não for, poderá ser explicada pelas inteligências lingüística e lógica. As provas nesse sentido ainda não são conclusivas.

M&C:Haveria em nosso DNA genes que a seleção natural favoreceu, proporcionando assim a inteligência naturalística ou a existencial?
Gardner: Certamente. Há genes para a inteligência naturalística e, provavelmente, para todas as formas de inteligência que menciono. Creio, porém, que cada um desses tipos possui subcomponentes. Na inteligência lingüística, por exemplo, não haveria só um gene, mas centenas. Alguns deles podem predispor às línguas estrangeiras, outros, à poesia e assim por diante. Mas se dissesse em meus livros que há 500 inteligências, ninguém me levaria a sério.

M&C: Falemos de seu último livro, Five minds for the future. O senhor descreve com precisão as cinco mentes que devemos desenvolver para viver na futura sociedade: sintética, respeitosa, ética, disciplinada e criativa. Que mentes não deveríamos cultivar?
Gardner: Ninguém me havia feito esta pergunta até agora. No livro falo, sobretudo, do mau uso que se pode fazer de cada tipo de mente. Temo particularmente e penso que não deveríamos cultivar a mente fundamentalista, aquela determinada a não mudar de idéia sobre as coisas. É uma postura muito mais comum do que pensamos. Basta perguntar a alguém se recentemente mudou de idéia a respeito de algo. Provavelmente dirá que sim, mas se pedirmos um exemplo, terá dificuldade em responder. Sem perceber, nos aferramos facilmente a nossas convicções.

M&C: Permita-me uma provocação. O que o senhor diz é sem dúvida correto. Qualquer um concordaria que é bom ser mais disciplinado, respeitoso, razoável e assim por diante. Qual é, assim, a novidade da mensagem de seu livro?
Gardner: É uma pergunta legítima. Objetivamente, há aspectos da natureza humana sobre os quais é difícil hoje dizer algo de original. Esses temas, entretanto, devem ser reapresentados para cada nova geração de forma que lhe pareçam compreensíveis e sensatos. Creio ser importante fazer isso, sobretudo porque hoje se fala da mente quase que apenas do ponto de vista cognitivo. Em vez disso, eu falo de respeito, ética e educação em um sentido mais clássico. Não deveria valer apenas a nota tirada na prova de matemática, mas o tipo de ser humano que nos revelamos. Em segundo lugar, é verdade que o respeito sempre foi considerado qualidade desejável, mas na era da globalização, num mundo em que os povos podem facilmente se destruir, trata-se de algo indispensável.

M&C: Por qual de seus estudos o senhor gostaria de ser lembrado no futuro?
Gardner: Sou conhecido como “o fulano da bizarra idéia sobre inteligência”, mas gostaria que as pessoas recordassem a pesquisa sobre ética profissional que realizo há 15 anos e que se tornou um estudo sobre a confiança. Não sei se no futuro me darão crédito em relação a esse trabalho, mas não importa, pois estou totalmente convencido de que é indispensável. O domínio cultural exercido pelo mercado nos Estados Unidos está arruinando o que há de mais precioso no ser humano. Os americanos acabarão por destruir a si mesmos e provavelmente ao mundo, pois ignoram qualquer aspecto da vida que não seja comercializável. E porque pensam que, se fizerem uma prece todo domingo de manhã, terão indulto para arruinar qualquer habitante do planeta nos outros seis dias e meio.

Estudando a ética e o sentimento de confiança, gostaria de chamar atenção para coisas antes importantes que hoje não têm mais valor. De fato, a pergunta que você me fez é equivocada. A correta seria: por que as coisas de que falo, que todos deveriam saber, foram esquecidas?


OITO CRITÉRIOS PARA DEFINIR TALENTOS
1. Ser isolável em casos de lesão cerebral;

2. Ser desenvolvida em autistas “eruditos”, prodígios ou indivíduos excepcionais;

3. Basear-se em uma (ou mais) série de operações identificáveis;

4. Atingir níveis diversos de competência identificáveis em todo indivíduo;

5. Ter história evolutiva plausível;

6. Ser apoiada por dados da psicologia experimental;

7. Ser apoiada por provas de psicometria;

8. Ser codificável em um sistema de símbolos.


Para conhecer mais:
Five minds for the future. Howard Gardner. Harvard Business School Press, 2006.

Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Howard Gardner. Artmed, 2000.

A matemática na educação infantil – A teoria das inteligências múltiplas na prática escolar. Kátia Smole. Artmed, 2000.

FONTE DE POESQUISA:
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/multiplas_inteligencias_7.html