sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Inclusão deve ser palavra de ordem nos ensinos básico e superior.




Mesmo com o alto número de pessoas com deficiência matriculadas nos ensinos básico e superior, ainda há uma série de barreiras importantes a superar



Publicação: 10/09/2010 08:10



Curvado sobre a mesa, Rodrigo Cosme escreve, em letras trêmulas, o nome da doença que o levou à cadeira de rodas há cerca de um ano: síndrome de Toni-Debré-Fanconi, espécie rara de raquitismo. Aos poucos, as pernas começaram a desobedecê-lo e andar foi se tornando cada vez mais difícil. “No início eu achei que era só cansaço”, recorda o jovem, hoje com 24 anos. A limitação de seus movimentos, em vez de desanimá-lo, foi um estímulo para que ingressasse no curso de pedagogia. “Quero defender a área da educação inclusiva.”



O universitário Cosme engrossa um contingente em crescimento no Brasil: o das pessoas portadoras de deficiência matriculadas nos níveis de ensino básico e superior. O número de matrículas nas escolas regulares aumentou mais de quatro vezes desde 1999, passando de 63,3 mil para 387 mil no ano passado, segundo os dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC). No DF, são 6.580 alunos. Nos cursos de graduação, há cerca de 11,9 mil matriculados nas cinco regiões do país, de acordo com o último censo do MEC, feito em 2008. No mesmo levantamento, o Distrito Federal aparece com 625 graduandos.


Apesar desses avanços, Cosme sabe ser um privilegiado, não apenas por ter chegado ao ensino superior. Para conseguir exercer normalmente as atividades acadêmicas, ele conta com o apoio contínuo da equipe de profissionais e voluntários do Serviço de Orientação Inclusiva (SOI) da Universidade Católica de Brasília (UCB), onde estuda. A cada semestre, as disciplinas oferecidas ao estudante são alocadas em salas térreas, de fácil acesso. Como ele também tem dificuldade em coordenar os punhos, as provas que responde são passadas a limpo por outra pessoa antes de entregues ao professor.


A UCB conta com cerca de 90 alunos com deficiência visual, auditiva ou física e transtornos como dislexia e deficit de atenção. Rodrigo Cosme conta que a instituição possuía uma sala de recursos multifuncionais para atendimento especializado, ambiente previsto em lei federal. O problema era a estrutura física, que complicava a locomoção. “O elevador só funcionava uma vez por semana.” O pior foi o preconceito de colegas. “O que mais me chocou foi quando uma menina falou que eu só estava lá para ocupar espaço”, lembra.


Rede pública

O coordenador da Gerência de Educação Especial da Secretaria de Educação do DF (SEDF), Délcio Ferreira Batalha, garante que todas as escolas da rede pública são inclusivas e possuem salas de recursos. Mas admite que nem todas têm acessibilidade arquitetônica e professores capacitados para lidar com alunos com deficiência. “Se o educador recebe em sua sala um aluno com necessidades especiais, uma equipe itinerante vai até lá orientá-lo”, observa.


Na opinião de Batalha, a entrada e a permanência do estudante na escola são “questões que já nem se discutem mais”. A principal preocupação, então, é com a formação continuada dos educadores. “A rede privada às vezes se nega a fazer o atendimento em ensino especial. É na rede pública que se encontram os profissionais mais capacitados e 99,9% desses alunos”, acredita. A estimativa de Batalha foi algo além da conta. De acordo com o MEC, as escolas públicas comportam 93% dos estudantes portadores de deficiência do DF.

"A rede privada às vezes se nega a fazer o atendimento em ensino especial. É na rede pública que se encontram os profissionais mais capacitados e 99,9% desses alunos”

Délcio Ferreira Batalha, coordenador da Gerência de Educação Especial da Secretaria de Educação do DF

Docentes buscam qualificação

“O acompanhamento dos alunos de forma inadequada é algo a se vencer, grande parte das vezes, em nível de sistema educacional”, avalia Sandra Patrícia, doutora em linguística pela Universidade de Brasília (UnB). Sua constatação foi reforçada pelo grande número de inscritos no curso que ela coordena no Centro Educacional 6 (CEd 6), de Taguatinga, destinado à qualificação de docentes no ensino de português como segunda língua para surdos. “Foram abertas 20 vagas e compareceram, no primeiro dia de aula, 40 interessados em participar. Isso demonstra que boa parte dos professores tem buscado formação”, enfatiza. O curso conta com o apoio da Escola de Aperfeiçoamento de Professores da SEDF.


O Centro Educacional 6, em Taguatinga, firmou-se como uma das escolas do DF mais bem capacitadas para a educação de surdos. Além daquele curso, o colégio implantou, por iniciativa própria, classes exclusivas para alunos com a deficiência. São duas disciplinas: português e biologia. A matrícula nessas turmas não é obrigatória e o jovem pode optar, com o aval dos pais, por frequentar somente as salas inclusivas, em que intérpretes traduzem para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) o que o professor diz aos ouvintes, nome dado aos colegas não surdos.


Euzilene Rodrigues, 19 anos, é um dos 32 jovens da turma de Sandra Patrícia, que leciona português para surdos. Os estudantes apresentam diferentes graus de perda auditiva; alguns conseguem articular palavras, ao passo que outros, somente sons e sílabas soltas. Euzilene não hesita ao dizer que aprende mais na classe exclusiva, baseada em um metodologia de ensino diferenciada. “Na sala normal, eu compreendo um pouco por meio do intérprete. Mas ele não é especialista na área do professor e nem sempre traduz os conceitos de forma clara”, justifica. Quando o intérprete falta, a saída é fazer a leitura labial. “Mas a professora fala muito rápido”, reclama outra aluna, Mayrla Maria Sales, 16 anos.


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FONTE DE PESQUISA: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/09/10/cidades,i=212321/INCLUSAO+DEVE+SER+PALAVRA+DE+ORDEM+NOS+ENSINOS+BASICO+E+SUPERIOR.shtml

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