sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A escola e o professor, oferecendo uma educação conforme as características do aprendente.



É fundamental contribuir para uma promoção de sucesso das crianças disléxicas e imprescindível melhorar o fluxo da informação entre a escola e a comunidade, de modo que pais e alunos possam conhecer tanto aquilo que a escola pode oferecer como as limitações com que se debate; organizar encontros entre a equipe especializada e todos os interessados, para que possam adotar uma abordagem de colaboração e cooperação que torne mais fácil a busca de soluções.

Os professores devem saber que os alunos com dislexia podem ser bem sucedidos na escola, precisando é de formas diferentes de ensino; devem ser positivos e construtivos: reconhecer que uma criança com dificuldades específicas de aprendizagem pode demorar mais tempo a aprender e cansar-se rapidamente; deve ser cuidadoso não aplicando rótulos negativos; assegurar um ambiente educativo estruturado, previsível e ordenado; deve saber que ameaças ou chantagens não motivam a criança com dislexia, ela necessita de instruções claras e de um ritmo mais lento e repetido; deve valorizar as capacidades da criança, apoiando-se nos seus pontos fortes (Cogan,2002). O mesmo autor refere que o professor deve manter-se informado acerca dos problemas encontrados pelos disléxicos; reconhecer que um ensino por objetivos voltado para as competências e utilizando uma metodologia multisensorial pode ser de grande utilidade; reconhecer a frustração sentida pelo aluno com dislexia e que pode acarretar possíveis problemas de comportamento ou auto-estima. É fundamental, destacando a relevância do professor no apoio ao aluno com dislexia, que ele demonstre atenção e compreensão; construa uma boa relação professor-aluno; lembrar-se que esta criança aprende de uma forma diferente, mas que é capaz de aprender; saber que na realização de suas atividades, trabalhos e provas, sua oralidade é a melhor habilidade indicada, pois revela grandes lacunas no que diz respeito à parte escrita; fazer com que outras crianças compreendam a natureza da dislexia, para evitar zombarem e importunarem os colegas portadores da mesma.

Vale ressaltar que a Lei nº 7.853 de 24/10/89- regulamentada pelo Decreto nº 3.298 de 21 de dezembro de 1999, assegura alguns direitos à educandos com necessidades educacionais especiais, como: as instituições de ensino deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para realização das provas, conforme as características da deficiência; adotar orientações pedagógicas individualizadas, e outras garantias.

A escola e o professor, oferecendo uma educação mais apropriada estarão colaborando com o sucesso escolar desses alunos, portanto é bastante eficaz fazer uso de materiais diversificados no apoio das aulas, oferecer resumo dos conteúdos que serão abordados, ministrar suas aulas com clareza e repetição, dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo, apresentar novas palavras de forma contextualizada, realizar sempre que possível aulas de revisão e traballhos em grupo, fazer a leitura em voz alta antes de iniciar a avaliação e acrescentar o tempo para a realização da mesma, entre outros.

A queixa mais frequente nos últimos anos é o baixo desempenho escolar, relacionado a vários fatores, dentre eles os transtornos de aprendizagem existentes (dislexia, dislalia, discalculia, disgrafia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade entre outros). Gostaríamos de destacar a dislexia, dada a importância de seu conhecimento para a concepção dos educadores e intervenção escolar.


A definição mais utilizada, segundo ABD (Associação Brasileira de Dislexia) é a de 1994 da International Dyslexia Association (IDA): Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Essas dificuldades não são esperadas com relação à idade e a outras dificuldades acadêmicas cognitivas; não são um resultado de distúrbios de desenvolvimento geral nem sensorial. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem frequentemente incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e soletração. Segundo os critérios do DSM IV-TR (2002), o transtorno de leitura (dislexia), consiste em rendimento em leitura substancialmente inferior ao esperado para a idade cronológica, inteligência e escolaridade do indivíduo.

As tentativas de definir e explicar as causas da dislexia foram inúmeras nas últimas décadas, sendo que as principais são as que explicam a dificuldade como:a)fator relacionado à herança(Vogler, Defries & Decker,1985, Apud Ellis,1995); b)fator relacionado à lateralização cerebral de Geschwind-Behan-Galaburda, teoria GBG, referindo-se ao fato de um atraso no desenvolvimento hemisférico esquerdo, durante o período embrionário; c)fator relacionado ao comportamento social diferente entre meninos e meninas, propondo que meninas tem comportamentos mais socialmente aceitos que meninos, principalmente na escola.

Segundo alguns autores, a dislexia é de origem familial quando presente em cerca de 35% a 40% dos parentes de primeiro grau e herdada quando ocorre hereditariedade em 50% de uma mesma família. (Pennington,1997; Grigorenko et al. 2000,2003; Nopola-Kemmi et al , 2002; Hsu et al, 2002).

A Associação Brasileira de Dislexia fornece dados relatando que, a maior incidência da população mundial que apresenta dificuldade de aprendizagem (10 a 15%), está contida no quadro de disléxicos.

A história familiar é um dos fatores de risco mais importantes: 23 a 65% das crianças disléxicas têm um parente com dislexia (Scarborough,1990).

Entre irmãos, a taxa é de 40%, já entre pais e filhos é de 27 a 49%(Pennington and Gilger,1996).

Segundo o DSM-IV e nos EUA, é de 4% a estimativa da prevalência da perturbação da leitura nas crianças com idade escolar. No entanto, conforme vários autores essa percentagem já se encontra entre 5 a 10%. Berger et al. (1975) realizaram estudo na Inglaterra e constataram ser mais freqüente em meninos.Contudo, estudos mais recentes apontam para uma maior proporcionalidade entre ambos os sexos quando utilizam amostras não clínicas (ABD, 2008).

De acordo com Gorman(2003) e Pennington(1997), as causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas, sendo também encontrados estudos que descrevem fatores ambientais.

Considera-se também o nível socioeconômico das famílias, porém as de nível baixo lêem menos para seus filhos e fazem poucos jogos de linguagem com eles, a falta dessas experiências pré-escolares parece retardar o desenvolvimento de habilidades posteriores de leitura (Pennington,1997).

Não há uma característica padrão para todos os disléxicos; consistem num conjunto de sinais e sintomas combinados nos mais variados graus. A dislexia pode apresentar sintomas comuns a outras patologias (Ciasca,2003, p.62).

Estão presentes algumas manifestações no distúrbio específico de leitura: incapacidade de decodificação e dificuldade em tarefas de memória fonológica, também no tratamento ortográfico da informação; danos na via de conversão grafema-fonema; comprometimento e ou bloqueio da via lexical e não-lexical; desempenho muito ruim ou ausência na leitura de estímulos não familiares e pseudopalavras (palavras não reais); maior facilidade para leitura de palavras concretas e freqüentes; preservação da leitura de palavras isoladas; dificuldades no campo visual do lado contralateral ao da lesão cerebral e de leitura de vários itens quando apresentados simultaneamente; leitura letra por letra preservada (Ciasca, 2008, p.72).

Segundo Estill (2005) observa-se no comportamento das crianças que apresentam dislexia, diversos sinais visíveis, entre eles:
- atraso no desenvolvimento da fala e linguagem;
- histórico familiar;
- lentidão nas tarefas de leitura e escrita, porém desempenha-se bem nas orais;
- não compreende o que escreve;
- confusão de letras com diferente orientação espacial (p-q, b-d);
- confusão de letras com sons semelhantes (t-d, f-v);
- inversões de sílabas ou palavra (par - pra);
- substituições de palavras com estrutura semelhante;
- omissão, adição ou repetição de letras ou sílabas;
- dificuldades rimas-canções;
- falta de coordenação motora fina e ou grossa;
- falta coordenação mão e olho;
- desatenção e dispersão;
- disgrafia;
- desorganização geral (tempo e espaço), desengonçado;
- fraco senso de direção (dir/esq), mapas, dicionários;
- dificuldades visuais: postura de cabeça-organização do trabalho na folha;
- dificuldade em aprender nomes de letras ou sons do alfabeto;
- dificuldade aprender relação grafema-fonema;
- problemas de conduta na sala de aula mostrando-se tímido ou “exibicionista”.

 Dificuldade do professor frente ao diagnóstico

A falta de conhecimento das características de crianças disléxicas por parte dos professores, pais e gestores educacionais, desfavorece o processo ensino- aprendizagem.


De acordo com Collares e Moysés (1992), o uso da expressão “distúrbio de aprendizagem” está se expandindo entre os professores, porém, a maioria deles não conhece devidamente o significado dessa expressão ou quais os critérios baseados para utilizá-la no contexto escolar.


Nas instituições de ensino, professores relatam que crianças inteligentes apresentam grande dificuldade para escrever e ler. Esses profissionais geralmente são os primeiros a observar as dificuldades em crianças disléxicas, porém, sem informações e conhecimentos devidos acerca das dificuldades específicas encontradas na dislexia. É primordial saber detectá-las para facilitar seu trabalho, lidar melhor, apoiar o aluno, fazer encaminhamentos necessários para os serviços competentes e posteriormente uma intervenção pedagógica (Weiss, 2008, p. 93-101).


A Instituição escolar se confronta com um dilema: o desafio de atender ás diferenças de aptidões entre os alunos e, ao mesmo tempo, prepará-los para atingir objetivos estandardizados; surgindo as situações problemáticas quando consideramos alunos com dificuldades de aprendizagem, como é o caso da dislexia.

 Diante do tema pesquisado é possível chegar às seguintes conclusões: ainda há um distanciamento entre pesquisa e prática em muitas áreas da Educação, especialmente na avaliação e ensino da leitura; a escola ainda não responde eficazmente ao desafio de trabalhar com as necessidades educacionais, relacionadas às dificuldades de linguagem no que se refere à leitura e escrita, chamando atenção para a ausência de esclarecimento adequado a respeito do insucesso da aprendizagem escolar.

O diagnóstico, avaliação, identificação e intervenção mais adequadas de crianças com dislexia são fundamentais para a superação das dificuldades escolares e contribuem na melhoria do desenvolvimento psicológico das mesmas; é necessária a elaboração de estratégias mais eficientes de intervenção, a orientação aos pais e professores é parte fundamental desse programa; é imprescindível um encaminhamento dessas crianças com dislexia a uma equipe de profissionais competentes, sendo relevante proporcionar aos professores contínua reciclagem para que possam vir a responder às necessidades específicas desses alunos.


FONTE DE PESQUISA: http://www.psicopedagogia.com.br/new1_artigo.asp?entrID=1299

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