segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Engatinhar é preciso para desenvolve conexões cerebrais

Engatinhar é preciso


por TATIANA ARANHA, FILHA DE MARIA DO CARMO






Quando seu filho descobre que pode se movimentar sem a sua ajuda, ele desenvolve conexões cerebrais que vão ser importantes para o aprendizado da fala e da escrita. Quem anda direto pode sentir falta essa etapa depois. Caia no chão com ele.
 
Muito pai e mãe ficam cheios de orgulho quando o filho pula a fase do engatinhar. Andar direto é isto como sinônimo de precocidade, quase um atestado de QI acima da média, daquelas coisas que a gente gosta de comentar na sala de espera do pediatra. Não é à toa que nos espantamos quando o médico aconselha a pôr o filho no chão e estimulá-lo a, exatamente, engatinhar. ′Ué, mas isso não é voltar atrás?′ Não mesmo. Essa é uma etapa tão importante que pode ajudar seu filho depois, na hora de aprender a falar, a escrever, a copiar a lição...


A coisa parece meio maluca, mas faz sentido. ′Quanto mais possibilidades motoras a criança tem, mais preparada a estrutura neurológica estará para as funções superiores - aprendizado da escrita, da fala e do pensamento′, afirma Fernanda Rombino, filha de Odette, que trabalha com reorganização neurofuncional utilizando o método Padovan.

Ao engatinhar, o campo visual do bebê aumenta, e ele adquire percepção de espaço e tempo - começa a notar volume, distância...

′Fica mais fácil fazer a progressão espacial, que é a noção de que a criança vai precisar, por exemplo, para passar ao caderno o que vê na lousa′, exemplifica Izabel Bicudo, mãe de Pedro e Luiza, psicomotricista e presidente da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade.

O fato de o bebê saltar essa fase está ligado à maturação do seu sistema neurofuncional. ′Pode ter causa genética (talvez você mesmo ou os avós nunca tenham engatinhado) ou se dever à falta de estímulos′, diz Dr. Mauro Muszkat, pai de Débora, Renata, Vitor e Daniel, neuropediatra e coordenador do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil. Nada de pânico. ′O sistema neurológico vai se desenvolver normalmente′, garante o médico.

O interessante é proporcionar oportunidades para que seu filho se movimente dessa maneira, mesmo que ele já caminhe.

Foi o que fez Carolina Campos, mãe de Dylan. O menino começou a andar aos 9 meses. ′Primeiro ele circulava pela casa se apoiando em tudo. De repente, começou a andar′, conta a mãe, que estuda arte-terapia. ′Hoje ele também engatinha. Procuro deixar alguns brinquedos próximos para que ele exercite o engatinhar, mas, se o percurso é de

longa distância, ele levanta e vai andando.′

O QUE É O MÉTODO PADOVAN

Quem diria que engatinhar poderia ser um exercício usado em tratamentos fonoaudiológicos? Para tratar problemas de fala, escrita e de doenças como o mal de Alzheimer, a fonoaudióloga Beatriz Padovan baseou seu método nos ensinamentos de Rudolf Steiner (1861-1915) sobre a natureza do ser humano e na teoria da reorganização neurológica, criada na década de 50 pelo neurologista americano Temple Fay (1895-1963). Após anos de estudo, elaborou uma série composta por exercícios corporais, respiratórios e oro-bucal-faciais. ′São exercícios como rolar, rastejar, engatinhar.

A idéia é repetir diversas fases do desenvolvimento do sistema neurológico, assim o paciente recapitula alguns processos que podem interferir em sua fala e seu pensamento′, comenta a fonoaudióloga Fernanda Rombino. ′Os pais aos poucos começam perceber a diferença. Às vezes melhora o desenho, a habilidade de recortar, a fala e até o funcionamento do intestino.′

Ele se move!

Engatinhar, no dicionário, é andar de gatinho, sustentando o corpo em quatro pontos. Quando seu filho conseguir virar de bruços, prepare-se! Os bracinhos já estão mais fortes, e, um belo dia, ele joga o corpo para frente, vira a barriga para baixo, apóia as mãos e os joelhos no chão, empina a bundinha e lá vai atrás do que lhe chamar mais a atenção. ′É instintivo fazer movimentos cruzados (braço direito e perna esquerda) como os gatos′, explica a fonoaudióloga Fernanda Rombino. Com o passar do tempo, a cadeia muscular, sob o comando do cérebro, adquire maior organização. Aos poucos os reflexos se tornam ações voluntárias, aprendidas. ′Até então, qualquer ação do bebê era ato reflexo, como buscar o peito da mãe para mamar′, complementa.

A vivência que a criança arrastando-se pelo chão adquire é fundamental para o amadurecimento do mesencéfalo - parte do cérebro responsável pela remessa de mensagens ligadas à realização de movimentos. Com o deslocamento do bebê, os dois hemisférios cerebrais passam a trabalhar unidos.

Não é a mamãe!

Entre o oitavo e o nono mês, aproximadamente, o bebê desfruta dessa incrível sensação de liberdade. Ele está apto para suas primeiras expedições pela casa. ′É a descoberta de um novo mundo, a criança cria novas relações espaciais e ganha um repertório mais amplo′, afirma Dr. Mauro. Agora tudo é uma ação motora. ′A partir da experiência corporal, das novas vivências, o bebê constrói imagens e pensamentos′, acrescenta a psicomotricista Izabel Bicudo. O desenvolvimento das crianças pode ser avaliado por três aspectos: neuromotor, anato-fisiológico e psicológico. O primeiro é responsável pela consciência do eixo corporal, que é fundamental para o equilíbrio e as noções de lateralidade (percepção do que está à direita ou à esquerda, na frente ou atrás...). O segundo está ligado ao fortalecimento muscular, à formação da curvatura cervical e lombar, posicionando a coluna de forma mais correta, e à curva plantar, que o pezinho do bebê não tinha antes. Nessa fase de início de independência, de autonomia e mobilidade, a criança descobre que a mãe é uma coisa e ela outra. ′Até então, o bebê achava que ele e a mãe eram a mesma pessoa. O desenvolvimento psicológico surge a partir das experiências corporais′, completa Izabel. Então, coloque seu filho no chão e deixe que ele ganhe o mundo.

AJUDE SEU FILHO A ENGATINHAR

Não tenha receio de colocar o bebê no chão. Estique um edredom ou um tapetinho próprio para bebês, vendido em loja de brinquedos. A criança precisa de espaço para se exercitar.

Crie um ambiente seguro. A melhor maneira de descobrir onde estão os riscos é sair, você mesmo, engatinhando pela casa.

Coloque no chão objetos que chamem atenção, mas os deixe um uma distância que possibilite que o bebê engatinhe.

Leve a criança diante do espelho para que ela se reconheça. Se possível, instale no quarto do bebê um espelho no sentido horizontal bem próximo ao chão. Ele observará seus movimentos.

Já é possível distraí-los com brincadeiras como: ′Cadê? Achou!′. Eles adoram se esconder atrás de qualquer coisa.

Estimule a visão da criança com brinquedos coloridos e objetos externos, relacionados a cenas do cotidiano. Exemplo: dar nome às coisas, mostrar o cachorro, a árvore, os pássaros etc.


FONTE DE PESQUISA:
http://www.revistapaisefilhos.com.br/htdocs/index.php?id_pg=109&id_txt=269

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