segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aprendizado de música exige o uso de diversos sentidos .


19 de junho de 2010

N° 16371AlertaVoltar para a edição de hojeLARISSA ROSO

Estímulo para o cérebro

Aprendizado de música exige o uso de diversos sentidos e faz com que o órgão trabalhe intensamenteAo dedilhar as cordas do contrabaixo, Lucas, 12 anos, sente a música tomar conta do seu corpo. Portador de dislexia, distúrbio de aprendizagem que pode comprometer a leitura, a escrita e a soletração, o aluno da 6ª série não imagina que a energia que passa pelas pontas dos dedos tenha potencial para transformar sua vida. Com dificuldade para aprender idiomas na escola, ele encontra na atividade extraclasse uma conexão com o mundo das letras.

– Leio bem, mas na hora de escrever não sai bem. Criava a música e ficava cantarolando, mas acabava esquecendo. Agora estou começando a escrevê-las. A música ajuda a me concentrar melhor – afirma o adolescente, que toca desde os seis anos e tem uma banda de rock.

O que Lucas sente abastece o esforço de pesquisadores de várias partes do mundo para provar os benefícios diretos da música à saúde. É recente a busca por comprovações de que saber ouvir e tocar promove estímulos essenciais ao cérebro, tornando-o mais afiado para absorver o conhecimento e ajudando a tratar problemas neurológicos. No Brasil, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (leia mais na página seguinte) está sendo preparada para tentar provar que o treinamento musical pode se transformar em tratamento para disfunções como dislexia, déficit de atenção e hiperatividade.

– É importante trazer esse assunto para o meio científico. É preciso saber o impacto do treinamento musical. Será que a música pode corrigir determinados problemas neurológicos? É uma pergunta procedente – afirma o psiquiatra Jair Mari, orientador da pesquisa.

Para ler as claves na pauta, perceber o tempo e o compasso e acertar o ritmo no instrumento, o cérebro precisa funcionar em alta rotação. Os sentidos trabalham em força máxima. Alterações no comportamento são visíveis a pais e professores. Melhora a atenção, tranquiliza, contribui para o aprendizado. O poder da melodia e da canção pode ir ainda mais longe: transformar-se em tratamento médico.

– Quando aprende música, você faz o cérebro funcionar melhor, ativa várias áreas. As conexões neuronais ficam mais afinadas. Será que isso não pode facilitar outros aprendizados como a leitura, por exemplo? – indaga o psiquiatra Jair Mari.

A possibilidade traz luz aos pais do estudante da Capital, que se esforçam para que ele se desenvolva como qualquer outro menino. Lucas pode até não alcançar a cura, mas, a cada vez que toca o seu contrabaixo, já venceu mais uma etapa:

– Curto a música, me faz bem. Fico tranquilo e alegre.

gustavo.azevedo@zerohora.com.br
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