segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Dislexia começou por se chamar «cegueira verbal congénita»


A Dislexia

Se tem um filho disléxico fique a saber que isso não significa que ele é menos inteligente que as outras crianças.


A Dislexia começou por se chamar «cegueira verbal congénita», até que em 1917 Hinshelwood propôs este termo, para designar a dificuldade que algumas crianças apresentavam na aprendizagem da leitura e da escrita, apesar de possuírem todas as capacidades intelectuais necessárias.

Estima-se que cerca de 5 a 10% da população sofra deste distúrbio, sendo que os rapazes são três vezes mais afectados que as raparigas. Dos 25% de crianças que todos os anos ficam retidos na 1ª classe, cerca de 90% apresentam dificuldades na aprendizagem de leitura e escrita, sem que este problema lhes seja diagnosticado.

Contudo, tal como é importante que os Educadores estejam despertos para a existência deste problema, também há que não cair na tentação de dizer automaticamente que uma criança é disléxica, só porque esta apresenta algumas dificuldades ao começar a ler. A dislexia é algo mais complexo e só é possível efectuar o diagnóstico um pouco mais tarde, uma vez que uma má adaptação é frequentemente recuperável.


Como se manifesta ?


Algumas crianças invertem as letras quando começam a aprender a escrever, mas esse problema é temporário. Assim, não se devem valorizar este tipo de dificuldades antes dos 7 anos ou seja, até ao final do 1ª ano, embora seja importante estar atento.

A dislexia progride muitas vezes de uma forma silenciosa e só quando já existe um historial de insucesso escolar é que todos se apercebem que algo não está bem.

A criança disléxica tem tendência para a escrita invertida, ou mesmo em espelho – por exemplo um «p» passa a ser um «q». Os sons parecidos são-lhes impossíveis de distinguir, sendo que letras como o «d» frequentemente são substituídas pelo «b».

Também se assiste há troca da ordem das letras dentro da palavra (ex.: «perguntar» passa a ser «preguntar») ou a inversão de algarismos (59 passa a 95). Os textos escritos por um disléxico são difíceis de entender, uma vez que há uma quebra de ritmo, que impossibilita o uso correcto quer da pontuação quer das regras de ortografia.

É-lhes complicado aprender sequências como por exemplo os dias da semana, assim como há também dificuldades ao nível da lateralização isto é, em identificar automaticamente a direita e a esquerda, cima e em baixo, à frente e atrás.


As causas possíveis


Existem múltiplas explicações para o surgimento da dislexia. Alguns estudiosos da matéria consideram os factores genéticos como determinantes no desencadear de um problema deste tipo. Embora não hajam certezas, o que é certo é que muitas crianças disléxicas possuem familiares que apresentam problemas semelhantes, em grau mais ou menos severo que estes.

Outra possível causa, está relacionada com alterações neurológicas. Assim, a nível cerebral tudo se explicaria, pelo facto de os disléxicos usarem excessivamente o hemisfério esquerdo, ao mesmo tempo que a utilização das potencialidades do hemisfério direito seria feita de modo incorrecto.

Constata-se também, que muitas crianças disléxicas são também canhotas ou mal lateralizadas, o que leva a concluir que existe alguma relação entre estes dois factores. Não quer dizer que os canhotos ou as pessoas que têm dificuldades em localizar automaticamente a direita e a esquerda, sejam necessariamente disléxicos, o que se pode dizer é que parecem estar de algum modo mais sujeitos a problemas de leitura e escrita.

Consequências


As consequências mais graves têm a ver com as repercussões ao nível da personalidade do disléxico. Muitas crianças não percebendo concretamente o problema que as afecta, podem encará-lo como algo muito grave e até sentirem vergonha por não serem capazes de acompanhar os colegas na leitura. Os níveis de atenção revelam-se muito baixos, o que intensifica o problema.

O disléxico manifesta também problemas de comportamento, uma vez que há o aumento do desinteresse pelas tarefas escolares devido ao insucesso. As disciplinas mais problemáticas são em regra a História, a Geografia e o Português já que existem grandes dificuldades ao nível da ortografia e compreensão do enunciado dos problemas.

É impossível separar a ortografia da leitura, por isso mesmo a Disortografia é frequentemente resultado directo da Dislexia, embora possa surgir também em crianças não disléxicas. O disortográfico continua a dar os mesmos erros típicos da 1ª ano, sem conseguir corrigi-los.

São palavras mal separadas, confusões, omissão de acentos, inversões de letras dentro da palavra, deformações como por exemplo «queria-mos diser qeu vamus contigu». É importante detectar estas situações já que tanto a dislexia como a disortografia se revelam sérios entraves ao sucesso escolar, se não detectadas a tempo de modo a ser possível efectuar-se um tratamento específico.

O que fazer?


Primeiro que tudo é necessário esperar até à idade escolar, estando depois atento às dificuldades que vão surgindo quer ao nível da leitura, quer da escrita. Nesta altura se as dificuldades se mantiverem, há que procurar ajuda especializada.

É importante que o tratamento se inicie o mais tardar aos 9 anos, por forma a revelar-se eficaz. Com apoio é perfeitamente possível que a criança disléxica, progrida na escola e recupere grande parte do atraso.

O trabalho de reeducação requer uma equipa multidisciplinar que deverá incluir necessariamente um Neurologista e um Psicólogo devidamente habilitado neste campo. O Neurologista avaliará se existem factores orgânicos que estejam a ser determinantes quer para o surgimento, quer para a evolução.

Há também que considerar a hipótese de fazer um rastreio oftalmológico, uma vez que as perturbações de percepção visual podem ser corrigidas.

Através de uma série de testes o Psicólogo, vai concluir se se trata realmente de dislexia e qual o grau de severidade. Frequentemente são pedidas informações à escola, já que é importante manter uma articulação psicólogo-professor. O psicólogo, após avaliar a situação, enviará informações ao professor acerca daquele aluno.

O Ministério de Educação prevê que se faça a sinalização destes alunos, para que as suas dificuldades tenham a devida atenção no meio escolar. Assim, a avaliação correcta do problema e da sua intensidade, torna-se fundamental para que a equipa escolar saiba os meios que deve accionar (inclusivamente, os alunos disléxicos quando chegam ao 9º ano de escolaridade, têm possibilidade de ser avaliados de modo distinto nas provas de final de ciclo).

O apoio psicopedagógico


O disléxico está demasiado atento para tentar evitar a falha, mas só consegue ser mal sucedido. É como quando aprendemos a andar de bicicleta ou mesmo a dançar. Se estivermos demasiado preocupados com os nossos movimentos, ser-nos-á difícil progredir na aprendizagem, assim como toda a criatividade fica comprometida.

Há que referir que a intervenção está longe de resolver todos os problemas. Existem crianças que melhoram mas que nunca conseguem atingir os 100%. A maior vantagem da reeducação será sempre o abrir da possibilidade para que o insucesso escolar seja minorado.

Como já referimos, quanto mais cedo se detectar este problema, maiores são as hipóteses de haver uma solução. Quando a dislexia só é detectada numa idade avançada, o trabalho do Técnico centra-se muito no aumento da auto-estima, de modo a que o indivíduo se adapte a esta realidade de uma forma positiva e diminua a ansiedade que entretanto foi surgindo a par com as tarefas escolares. Por este motivo, sempre que seja viável, um apoio psicoterapêutico é bastante adequado.

As sessões de reeducação deverão ser, no mínimo, com uma periodicidade semanal. Serão trabalhados aspectos da sonoridade das palavras, da escrita, da leitura… a par de uma consciencialização da criança para os seus problemas e da sua capacidade para os resolver. É importante sempre reforçar a auto-estima pois, apesar de os Disléxicos possuírem níveis de inteligência médios, ou mesmo superiores à média, o constante insucesso faz com que se desmotivem das tarefas escolares.

O papel da família


É de extrema importância que a família aceite e compreenda o problema da criança disléxica. Deste modo pode-se evitar o surgimento de sentimentos de culpa que só serve para provocar uma falha ao nível da auto-estima e aumentar a desmotivação, agravando assim o problema.

Uma aprendizagem mais lenta não significa que a criança não possa vir a revelar-se mais tarde um bom estudante!

A família tem que se esforçar por :

Mostrar a utilidade da escrita e da leitura. É uma boa estratégia por exemplo, incentivar a criança a escrever postais para a família, quer nas férias, quer mesmo ao longo do ano;

Não mostrar pressa quando a criança está a tentar fazer os trabalhos escolares.

Aumentar a ansiedade só faz com que falhe ainda mais;

Mostrar que o aceita tal e qual é, e acima de tudo, acredita que ele é capaz de ultrapassar esse problema com a ajuda do plano de reeducação;

Reforçar positivamente cada progresso ao invés de punir os insucessos.

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