segunda-feira, 2 de maio de 2011

A gaguez, ou tartamudez .

A gaguez na infância
A gaguez na infância


A gaguez, ou tartamudez, como tecnicamente se designa, é um distúrbio da linguagem que afecta cerca de 1 por cento das crianças e 0,8 por cento dos adolescentes.

Caracteriza-se por uma alteração no ritmo da locução, surgindo repetições ou bloqueios. Esta descontinuidade provoca uma ruptura ao nível do ritmo e da melodia do discurso. Embora não se saibam muito bem os motivos, o certo é que os rapazes são mais afectados que as raparigas, e a proporção é de 3 para 1.

Actualmente, constata-se que cerca de 80 por cento das pessoas com gaguez acabam por recuperar de modo espontâneo. Vulgarmente, essa recuperação faz-se até aos 16 anos, idade em que termina a adolescência.
Tipos de gaguez

- A gaguez Clónica caracteriza-se pela repetição de uma sílaba no início da frase ou quando está a pronunciá-la. Há uma repetição compulsiva das sílabas que ficam presas ( por exemplo : Por-Por-Por-Portugal).

- A gaguez Tónica é acompanhada por uma paragem no discurso, impedindo a articulação da palavra. Parece que se tropeça nas palavras. De repente, a palavra em falta explode e a frase completa-se – por exemplo: queres comer, comer, comer, um gelado? A gaguez pode ser acompanhada de movimentos motores como piscar os olhos, tiques e tremores.


- A balbuciação ou titubeação , são também distúrbios que se enquadram na gaguez. O balbuciador possui um pensamento que, por assim dizer, se desenrola mais rapidamente do que é possível verbalizar o que provoca um choque de palavras. Na titubeação, as frases são imperfeitas, incoerentes no modo como se constroem, mas não na sua articulação.


Quando surge?


A gaguez tende a surgir entre os 3 e os 6 anos, mas é mais frequente aos 5 anos. Estas idades constituem por si só, duas fases críticas do desenvolvimento infantil, uma vez que é por volta dos 3 anos que a criança começa a utilizar a linguagem como instrumento privilegiado de comunicação.

O pensamento formal está consolidado e há necessidade de o colocar em prática. A criança experimenta comunicar verbalmente, mas atrapalha-se com as palavras. Estas dificuldades geram ansiedade, que aumenta quando percebe que a mãe também está preocupada por esse motivo.

Por vezes, nos estadios de evolução da linguagem, podem surgir alguns episódios de gaguez, mas que são transitórios. Este facto não deverá constituir um motivo de inquietação para os pais. A situação geralmente resolve-se por si e a insistência em corrigi-la é que poderá provocar uma fixação.

Algumas crianças chegam, inclusive, a manifestar grande receio em falar. As crianças também têm tendência para repetir frases inteiras, o que não deve ser confundido com gaguez.

Aos 6 anos, chega o momento do ingresso na escola primária e há crianças que sofrem intensamente nesta altura, já que são inundadas de sentimentos de abandono. Embora a maioria das famílias opte por colocar os seus filhos no infantário, o certo é que este momento poderá constituir uma situação traumática para as crianças que estiveram sempre com a mãe e que de repente se vêm privadas dela.

O medo do abandono, a fantasia de terem feito algo errado e que estejam por isso a ser punidas, aumenta-lhes a ansiedade a tal ponto que podem surgir sintomas de gaguez.


As causas da gaguez



Alguns estudos em gémeos gagos, levaram autores a afirmar a existência de um factor genético como causa da gaguez. Constatou-se também que, em 34 por cento das situações, existiam outros casos na família.

Tendo por base estes estudos, os cientistas são de opinião que, nos sujeitos do sexo masculino com história de gaguez, as suas filhas têm 10 por cento de hipóteses de também o serem, enquanto que 20 por cento poderão também vir a sofrer deste problema.

Constata-se também que muitos gagos são também canhotos, canhotos contrariados, ou então crianças com dificuldades ao nível da lateralidade isto é, com má coordenação dos gestos.

Estas situações podem ser identificadas em crianças que têm pouca habilidade para enfiar contas, fazer puzzles, recortes, etc. embora inicialmente tudo apontasse para a existência de uma correlação entre a lateralização e as perturbações da linguagem, o certo é que numerosos canhotos jamais apresentam distúrbios ao nível da linguagem.

Um grande número de autores privilegia, de entre os factores desencadeadores da gaguez, a relação mãe-filho, insistindo na relação precoce com a figura materna. A atitude emocional da mãe é vital para estimular o bebé a comunicar, sendo que a qualidade da comunicação depende inteiramente dessa relação e dos estímulos do meio.

Mães ansiosas ou, no pólo oposto, distantes e pouco calorosas poderão desencadear na criança uma ansiedade tal que provocam o surgimento dos primeiro sintomas de gaguez. Frequentemente este tipo de mães assume um comportamento que oscila, de um modo contraditório, entre uma atitude possessiva ou asfixiante e outra de rejeição ou agressão.

Podem num momento ser extremamente carinhosas, mas no momento seguinte a paciência e a disponibilidade deixam de existir, afastando a criança de um modo abrupto. Estas atitudes podem provocar nos filhos uma tal insatisfação que, de entre outros modos, se manifesta por distúrbios ao nível da linguagem.

O adolescente gago


A gaguez tem aborrecidas repercussões na vida social do adolescente. A reacção deste situa-se em dois pólos opostos. Sendo a adolescência, por si só, uma época de grandes conflitos internos, alguns adolescentes quando se vêem perante este problema, tornam-se ávidos de contactos sociais, efectuando uma verdadeira "fuga para a frente".

Outros tornam-se objecto de troça para os seus pares. Este facto provoca-lhes uma baixa auto-estima que poderá conduzir ao isolamento.

Os psicólogos escolares têm constatado que o gago possui muitas vezes um QI superior à média. Contudo, apesar da gaguez não ser um defeito mental, não é por isso que não deixa de constituir uma pesada desvantagem para a adaptação escolar.

É por esse motivo que o atraso escolar médio dos gagos está estimado em um ano e meio. Curiosamente, podemos encontrar uma face positiva na gaguez, quando o adolescente associa automaticamente as proibições paternas ao seu problema.

Deste modo são evitados os conflitos familiares. Mas o que daí pode advir são os benefícios secundários desta patologia, que aqui se revelam numa renúncia no assumir de um comportamento adulto, devido á superprotecção de que é alvo.

O que a família pode fazer


- Não lhe aumente a ansiedade. Fale calmamente, fazendo-a perceber que tem tempo para ouvir a resposta. Não a pressione, só vai fazer com que gagueje mais.

- Mostre-se disponível. Ouça as histórias que ela conta, valorizando sempre que possível, a capacidade que ela tem em observar as coisas. Deste modo, pode transmitir-lhe o quanto gosta de a ouvir e de falar com ela, apesar do seu problema de linguagem.

- Resista à tentação de a interromper, de a ajudar a completar as frases.

- Aumente-lhe o vocabulário e a capacidade de expressão, através da leitura de uma história ao deitar. Sendo um momento em que estão juntos, pode também constituir uma boa ajuda porque estes conhecimentos serão colocados em prática no infantário.

- Evite expô-la a situações complicadas, que lhe provoquem ansiedade. Tente encontrar um equilíbrio nunca caindo na tentação de a superproteger, mas tendo sempre presente que a auto-estima do seu filho está fragilizada e que todos os ataques são muito sentidos. Não permita que a família comente ou goze com esse problema.

- Faça jogos com o seu filho, que incluam canções e versos. A criança gaga reage muito bem a tudo o que é decorado ou entoado com ritmo. Assim, o seu filho sentir-se-á mais preparado quando ingressar na pré-escolar.

Soluções para a gaguez


Existem várias maneiras de abordar este problema:

- Terapia da Fala – para que a linguagem se torne fluída.

- Relaxamento – para que o sujeito aprenda a relaxar-se quando estiver perante situações de grande ansiedade.

- Psicoterapia – isoladamente ou em complemento de outro tipo de intervenção, a psicoterapia revela-se eficaz. Nos adolescentes, as psicoterapias focalizadas nos problemas específicos da crise da adolescência podem ter um efeito muito feliz neste distúrbio. Nas crianças, a psicoterapia é também uma opção a considerar, de modo a libertá-la das suas ansiedades ou conflitos.


Texto da autoria de Drª Teresa Paula Marques
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente

Consultórios:
PORTUGAL/ Clínica da Criança - Avenida Jaime Cortesão, 27 b, Miraflores
Telef.: 21 4155850
Para mais informações aceda ao site: www.teresapaulamarques.com
consultório no Sapo : http://psicologiacriancaeadolescente.blogs.sapo.pt/

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